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Comissão da Verdade realiza segunda audiência com índios

24 abril 2014 - 22h00Por Redação Douranews

Membros da CNV (Comissão Nacional da Verdade) retornam a Dourados para a segunda audiência pública que acontece nesta sexta-feira (25) e sábado (26) no cine-auditório da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados). Nesta segunda sessão serão apresentados nove casos de violação de direitos humanos contra os indígenas em Mato Grosso do Sul, ocorridas no período estabelecido pelo mandato da CNV (1946-1988). A violência sistemática contra os índios no Estado culminou com a expulsão deles dos territórios tradicionais, segundo a CNV.

A audiência contará com a presença das etnias guarani-ñandeva, guarani-kaiowá, terena, kadiwéu, kinikinau, ofaié-xavante e guató, todas de Mato Grosso do Sul. Especialistas acompanharão os depoimentos devido à dificuldade dos indígenas com a língua portuguesa.

Esta é a segunda audiência da CNV exclusiva para ouvir indígenas. Integrante da Comissão Nacional da Verdade, a psicanalista Maria Rita Kehl já percorreu vários Estados para ouvir indígenas em suas terras. Ela esteve com os Guarani do Paraná, Suruí do Pará, os waimiri e ianomamis de Amazonas e Roraima, os pataxó e tupinambá da Bahia e os kayowá do Mato Grosso do Sul. Além disso, a psicanalista recebeu os xavante de maraiwatsedé, do Mato Grosso, em Brasília.

Para Maria Rita, ouvir os índios é fundamental para o trabalho que ela vem desenvolvendo a frente do grupo de trabalho "Graves violações de Direitos Humanos no campo ou contra indígenas": "Aprendi, ao escrever meus capítulos sobre graves violações de direitos humanos contra camponeses e indígenas, que não basta documentar as violências ocorridas. A sociedade brasileira desconhece grande parte do que ocorreu com os camponeses, e mais ainda com os índios. Muita gente, de boa fé, me pergunta: 'mas os índios lutaram contra a ditadura?'. Por isso, para melhor sensibilizar a sociedade e melhor qualificar os muitos tipos de violações graves sofridas por estes brasileiros de regiões isoladas do país (principalmente no período de 1946 a 88, coberto pela CNV), entendi a importância de colher depoimentos das vítimas. Só assim consigo transmitir aos leitores não apenas as graves violações cometidas por agentes do Estado, ou com sua conivência (como ocorre até hoje), mas também parte da cultura das vítimas, da sensibilidade particular de cada sub grupo, de cada etnia. Espero que meu relatório tenha também este efeito, de sensibilizar o Brasil para a enorme riqueza cultural e subjetiva que se perde com a destruição das condições de vida de camponeses e indígenas", disse.

Segundo o MPF (Ministério Público Federal) em Mato Grosso do Sul, as informações e depoimentos desta segunda audiência vão somar com as já colhidas pela Comissão Nacional da Verdade em 21 de fevereiro, na 1ª audiência da CNV voltada para os direitos indígenas no país. Poderão servir como base para possíveis pedidos de indenização coletiva, ou outras ações compensatórias, em favor das comunidades indígenas.

Para o procurador da República Marco Antonio Delfino, "é importante que nós entendamos este processo histórico, que ocasiona 60 suicídios ao ano. A violência sistêmica começou lá atrás, capitaneada pelo Estado brasileiro. Crimes foram cometidos, remoção de populações inteiras, para atender interesses particulares. Estamos resgatando o direito à verdade, à reparação e, principalmente, agindo para que isso não se repita".

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