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País paga salário de dependentes do álcool com cerveja

20 outubro 2014 - 11h17Por Redação Douranews

Alcoolismo é uma doença que não escolhe classe social, nem nível de renda ou escolaridade e que hoje atinge cerca de 140 milhões de pessoas no mundo todo. Um projeto polêmico promete ajudar os dependentes oferecendo a eles cerveja.

Amsterdã é uma festa para quem quer curtir a beleza dos canais que cortam uma das cidades mais encantadoras da Europa.

Uma cerveja gelada em uma tarde quente de verão. Para quem gosta, é algo irresistível. Pensando nisso, uma ONG passou a usar cerveja como uma espécie de salário. O problema é que os trabalhadores são dependentes de álcool. Uma ideia polêmica, mesmo em uma sociedade aberta como a holandesa. Não será uma solução amarga demais?

Eles trabalham como limpadores, três vezes por semana, no Parque Valentijnkade, no centro de Amsterdã. Fred, 61 anos, reconhece: “Não tenho orgulho de ser um alcoólatra, mas tenho orgulho do que faço aqui: trabalhar”.

Ex-usuário de drogas, Fred não consegue ficar um único dia sem álcool, porque sofre de síndrome de abstinência, que faz, por exemplo, as mãos tremerem. “É um remédio para nós. Não demais. Apenas cinco cervejas”, ele conta.

Janet van der Noord, uma das coordenadoras do projeto, explica que cinco doses evitam a síndrome e não os deixam bêbados. “Algo semelhante é feito com usuários de heroína”, diz ela.

A sede do projeto é em um pequeno prédio. Em uma sala, fica guardado um estoque de cerveja. Depois que as primeiras latas do dia são retiradas, a sala é trancada a chave.

Ao longo do dia, eles recebem cinco latas de cerveja. Ao contrário de outros projetos que obrigam os participantes a, ao menos tentarem ficar sóbrios, este não tem grandes exigências: eles podem beber tranquilamente enquanto brincam com a mascote do grupo. Só precisam cumprir os horários e evitar confusões.

Às 11h15, eles já estão uniformizados, carregando os equipamentos para recolher o lixo no parque. Eles são sempre acompanhados por uma monitora. “É para evitar tentações no caminho, como parar para beber mais do que as cinco cervejas do dia”, diz a coordenadora do projeto.

Eles fazem dois turnos de limpeza, de uma hora e meia cada. Além das cervejas, eles recebem 10 euros por dia, o equivalente a R$ 30 pelo trabalho.

Outro participante reconhece: “Eu uso o dinheiro para comprar comida, mas também bebida. É difícil resistir”.

Os frequentadores do parque se dividem sobre o projeto. Um homem diz que é a favor: “Se eles bebem cerveja, ficam relaxados. Se não beberem, podem se tornar agressivos”.

Uma ciclista é contra, acha que deveria haver um tratamento para abandonarem a bebida: “Se não pararem de beber, nunca terão uma vida melhor do que limpar um parque em troca de cerveja”.

Depois do turno da manhã, eles retornam para a sede do projeto para o almoço. Com a refeição, ganham a terceira lata de cerveja. As duas últimas serão entregues no fim do dia.

Para Dartiu Xavier da Silveira, especialista em dependência química, o tratamento dos alcoólatras na Holanda é polêmico: “Eu acho que você pagar alguém com álcool, alguém que é dependente de álcool, eu acho que é algo que é eticamente questionável, moralmente bastante difícil. Porque a pessoa está tentando se livrar de um problema. E você justamente dá como moeda de troca o acesso fácil a esse problema”, diz o psiquiatra da Unifesp.