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Médicos separam siamesas unidas pela cabeça, em cirurgia inédita no DF

29 abril 2019 - 14h55Por Correio Braziliense

Uma cirurgia delicadíssima e inédita no Distrito Federal, da qual dependia a vida de duas pequenas brasilienses muito especiais, ocorreu no ultimo sábado, 27 de abril, no Hospital da Criança de Brasília José Alencar. Depois de uma preparação de mais de um ano, uma equipe de médicos da cidade separou irmãs gêmeas que nasceram unidas pela cabeça. As meninas, agora, seguem em observação, cercadas de todos os cuidados, como vem acontecendo desde que exames de pré-natal mostraram que elas eram siamesas.

A pedido dos pais, o caso foi mantido em sigilo pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Respeitando o desejo da família, que ainda pede para se preservar a identidade das meninas, o Correio não dará detalhes que possibilitem a identificação das duas. Ao longo dos últimos 10 meses, a reportagem acompanhou a história e conversou com alguns dos profissionais envolvidos no caso.

O processo de preparação para a realização da primeira cirurgia desse tipo na capital federal começou ainda no pré-natal. Os exames mostravam que elas estavam unidas pela cabeça, único caso registrado até hoje em Brasília. Prontamente, foi mobilizada uma grande equipe, incluindo neurologistas pediátricos, microcirurgiões, cirurgiões plásticos, obstetras, anestesistas e enfermeiros, entre outros profissionais. "Não era caso para uma pessoa só, mas para um time", diz ao Correio o neurocirurgião Benício Oton, responsável pela operação.

Ao menos 12 médicos acompanharam as meninas desde o início. Uma equipe de especialistas em siameses dos Estados Unidos, um deles com 24 casos no currículo, também foi acionada para ajudar. Cinco médicos norte-americanos estavam no hospital no momento da separação, observando o time brasiliense, que recebeu muitos elogios dos estrangeiros.

Nascimento

As meninas nasceram em junho do ano passado, no Hospital Materno-Infantil de Brasília (Hmib). Após a cesariana, foi possível confirmar quais órgãos e tecidos elas dividiam. Constatou-se, então, que elas tinham em comum parte da pele da testa, do crânio e da meninge, um conjunto de membranas que envolve o cérebro.

Era um bom sinal. Como não compartilhavam nenhum órgão vital, a operação era viável e as chances de que a cirurgia de separação corresse bem eram muito boas. O impedimento inicial era o fato de serem recém-nascidas, logo frágeis demais para um procedimento médico como o que enfrentariam.

A solução era esperar que elas crescessem, ganhassem peso e ficassem prontas para o desafio. Depois de um mês na UTI, foram para a enfermaria do hospital e continuaram a ser acompanhadas enquanto se desenvolviam. Ao mesmo tempo, a equipe não queria esperar muito. A ideia, afinal, era permitir que as irmãs pudessem se desenvolver naturalmente e aprendessem a andar já independentes uma da outra.

Molde tridimensional

A preparação incluiu reuniões, análise de exames, estudo de outros casos e até a construção de um molde tridimensional da cabeça das crianças. Nas análises, percebeu-se também que, após a separação, a recomposição da pele era uma questão crucial. Uma equipe de microcirurgia plástica ficou a postos para realizar um transplante de pele vascularizado. "É uma medida necessária para evitar uma infecção ou um caso de meningite", explica Oton.

Todas essas medidas ajudaram para que a operação fosse um sucesso. O grande dia foi o sábado passado, 27 de abril, pouco antes de as meninas completarem 11 meses. Depois de mais de 20 horas, a cirurgia chegou ao fim. "Foi um sucesso. Elas estão reagindo como esperávamos", diz o médico. Agora, separadas pela primeira vez nesse curto tempo de vida, as irmãzinhas continuam cercadas de cuidado, para que possam crescer independentes, unidas apenas pelo amor de irmãs e pela certeza de que, juntas, superaram, logo no início da vida, um grande desafio.