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Versões diferentes são contadas por testemunhas no caso de jovem morto em show na Capital

06 fevereiro 2018 - 13h07Por Glaucea Vaccari/CE

Duas testemunhas que presenciaram o assassinato de Adilson Ferreira dos Santos, 23 anos, deram versões diferentes para o crime, durante audiência realizada ontem (5) na 1ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, pelo juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida.

Crime aconteceu na madrugada do dia 24 de setembro de 2014, depois de show realizado no estacionamento do Shopping Bosque dos Ipês, em Campo Grande. Agente penitenciário federal, Joseilton de Souza Cardoso, 37, efetuou um disparo de pistola .40 , que atingiu o tórax da vítima.

Das dez testemunhas de acusação, arroladas pelo Ministério Público Estadual (MPE) e por assistentes de acusação, previstas para depor, apenas seis foram ouvidas ontem. Um desistiu, outro será ouvido por carta precatória e duas não foram localizadas para intimação e serão ouvidas posteriormente.

Primo da vítima, que estava com ele no dia do show, disse que a confusão começou quando Adilson encontrou o agente penitenciário Joseilton de Souza Cardoso, 37, debruçado no banheiro, abriu a porta e questionou se o agente estava bem. Acusado não teria respondido, saiu do banheiro e a vítima entrou.

O primo ficou esperando do lado de fora e, segundo ele, o acusado perguntou o que ele de Adilson, se apresentou como agente penitenciário e levantou a camiseta para mostrar que estava armado.

Quando Adilson saiu do banheiro, viu o primo e o acusado conversando e, como o tom de voz estava alto, pensou que estivessem discutindo e começou a briga com o acusado. Durante as agressões, primo afirma que acusado caiu depois de tropeçar no degrau da escada do camarote e, neste momento, ele segurou a vítima para separar a briga.

“Puxei e fiquei segurando [a vítima]. Ele [acusado] levantou, sacou a arma e deu um tiro. Pedi ajuda e ele correu para o meio da muvuca”, disse a testemunha.

Outra testemunha, uma vendedora que estava no show com amigas, disse também ter visto toda a ação. No entanto, mesmo sendo testemunha de acusação, ela afirmou que o acusado atirou para se defender porque estava “apanhando muito” e que Adilson não estava sendo segurado quando houve o tiro.

A mulher afirmou que estava na fila do banheiro e não viu o início da briga, mas que quando a confusão começou, ela viu o agente penitenciário sendo agredido por Adilson.

“Foi uma briga muito feia. A vítima batia e o agente apanhava, com socos, chutes e tapas. Ele apanhou muito”, disse em depoimento.

Ainda segundo a testemunha, três pessoas teriam tentado segurar Adilson, mas como ele era alto e forte, conseguiu se soltar e foi novamente para cima do acusado, que havia caído no chão depois de levar um chute, conforme ela.

“Foi a hora que ele pegou a arma e atirou. Ele não queria briga, ele fazia sinal com a mão para parar e pedia para parar, mas ele apanhou muito e o rapaz ia para cima”, completou.

Além dos depoimentos das testemunhas que presenciaram o crime, também foram ouvidas outro primo da vítima e sua esposa, que estavam no camarote e afirmam apenas terem escutado o tiro, sem presenciar o crime, e dois seguranças que trabalhavam no evento, que imobilizaram e desarmaram o acusado após os disparos, mas que também afirmaram não terem testemunhado o caso.

Quanto a estes depoimento, divergência foi com relação ao número de disparos. Parentes afirmam que foi apenas um e seguranças dizem ter ouvido dois tiros.

Outra audiência foi marcada para o dia 15 de abril, onde serão ouvidas as duas testemunhas que não foram encontradas para intimação, testemunhas de defesa e o acusado.

Defesa e acusação

Advogado do acusado, José Roberto Rodrigues da Rosa, disse que tese principal da defesa é a legítima defesa. Conforme ele, testemunhas de defesa, que ainda serão ouvidas em juízo, afirmam que o acusado foi agredido por mais de uma pessoa e ele atirou no que "oferecia maior risco" para se defender.

"A única testemunha isenta [ouvida ontem], que não tem parentesco com a vítima, disse que meu cliente apanhou muito. O que eu penso da audiência de hoje [ontem] é que ela alinhou bem nosso pensamento em relação a legitima defesa", disse.

Já os advogados assistentes de acusação, Herika Ratto e Thiago Nascimento Moreira, afirmam que houve excesso na ação do agente penitenciário e que não houve legítima defesa.

Conforme Herika, não existiu terceira ou quarta pessoa na briga, apenas a vítima e o acusado, que começaram a se agredir na porta do banheiro.

"Num determinado momento, depois que o primo da vítima tentou conter e segurou ele, justamente nesse momento que houve o disparo. Então a agressão em si já tinha cessado. Então entendemos que não houve legitima defesa e não houve nem terceira nem quarta pessoa agredindo o acusado, disse.

Já Moreira ressaltou que o acusado tinha prerrogativa de andar armado por conta da função de agente penitenciário federal, mas que o fato não justifica o crime.

"Justamente por ser agente penitenciário federal, ele tinha noção da onde ele estava atirando, que foi uma região fatal. Ele poderia ter atirado para cima ou qualquer outra região do corpo. Ele atirou para matar", afirmou o assistente de acusação.

O crime

Depois de show de dupla sertaneja Henrique e Juliano, que aconteceu em Campo Grande na noite de 23 de setembro de 2017, Adilson Ferreira dos Santos, foi morto ao ser alvejado por agente penitenciário na madrugada do dia 24, por volta das 3h.

O crime teria acontecido logo depois que o evento havia terminado. Uma das versões para o crime é que a vítima e o suspeito dos disparos discutiram por conta de uma copo de água e Adilson teria dado um soco no agente penitenciário, que revidou com os tiros. Uma outra linha que testemunhas relataram é que ambos haviam discutido sobre quem usaria primeiro o banheiro químico até ocorrer o disparo.

O show aconteceu na área do estacionamento do Shopping Bosque dos Ipês, na Capital. O centro comercial emitiu nota de esclarecimento e informou que o evento foi realizado dentro das normas exigidas de segurança com apoio das Polícias Civil e Militar.