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“Usina Velha”, a materialização da vergonha

25 maio 2019 - 12h58

O cadáver, a despeito de explorado, tripudiado e, hipocritamente usado, em incontáveis promessas demagógicas de restauração, resiste indestrutível. A “Usina Velha”, a cada dia mais velha, tem registrada sua história, recheada de frustrações e vergonha.

Foram muitas as promessas de recuperação do prédio, que juntamente com os equipamentos: primeiro, para produzir energia elétrica a partir de uma caldeira; depois, com um motor de submarino, teve furtados, um após o outro, tudo o que continha no interior do prédio. Até o edifício foi demolido e roubado, tijolo por tijolo, restando nos dias de hoje, a enorme chaminé e um “gafanhoto” de concreto, a título de estrutura, do que foi um dia, em 1949, a usina “Filinto Muller”, a redenção e o orgulho dos douradenses perdidos na escuridão.

As promessas de restauração feitas pelos prefeitos que se sucederam; a notícia de que o Banco do Brasil concedera uma doação, para a recuperação da Usina; nada moveu o ânimo dos administradores do município, que não se importaram nem mesmo em cercar o local, que continua aberto, servindo de pasto para as éguas (e também para os cavalos) que circulam livres pelo local.

No texto do artigo escrito e publicado em janeiro de 2015, “A Usina Velha e sua Vergonhosa História”: “Atesto como testemunha e escritor, que durante a administração do saudoso e querido JORGE SALOMÃO (1971/1973, com mandato de três anos) a hoje “Usina velha” encontrava-se em perfeito estado de funcionamento, acionada por um motor de submarino.” Claro, por esse tempo a caldeira já havia sido furtada.

Lá estive em companhia do Prefeito Jorge Salomão e outras pessoas, ocasião em que o Prefeito, muito satisfeito, apresentou-nos o encarregado da usina, dizendo: “—Este funcionário é exemplar: fica o dia todo com um paninho limpando o motor e cuidando da usina, e ela tem dado o que pode!”

Continua o artigo: “Quaisquer dos sucessores do prefeito JORGE ANTONIO SALOMÃO, o querido “tio Jorge”, a partir de 1974, é o responsável pelo estado atual da usina velha”. Anote, depois do “tio Jorge” vieram os prefeitos: Totó Câmara, 1974/1977; Zé Elias, 1978/1982; Luiz Antonio, 1983/1988; Braz Melo, 1989/1992. No período da administração dele (Braz Melo), eu exercia a função de Advogado-Geral do Município e posso atestar, que a usina já se encontrava saqueada e demolida, de onde levaram até o motor de submarino.

Agora, através do “fac-símile” de um ofício, podemos saber como a “Usina Velha” nasceu em Dourados, para produzir energia elétrica. Para tanto, louvamo-nos no livro “Memória Fotográfica de Dourados”, pág. 129, da lavra de Regina H. Targa Moreira, editado em 1990:

“Ministério da Justiça e Negócios Interiores.- Of/Snº.- Em 15-XII-1.949; Do encarregado da Uzina de Dourados ao Sr. Presidente do Diretório do PSD.- Assunto (Agradecimento (faz).- Sr. Presidente. – Tenho o prazer de transcrever o telegrama (...) “SENADOR FILINTO MULLER PRAÇA CORUMBA – RIO. QUEIRA EMINENTE AMIGO ACEITAR MEU GRANDE ABRAÇO PELA ENTREGA DA UZINA E SERRARIA DE DOURADOS vg AO GOVÊRNO DO ESTADO pt SERVIÇOS CONCLUIDOS E EM PLENO FUNCIONAMENTO DESDE 11 DE SETEMBRO DO CORRENTE ANO vg CONSIDERADA UMA DAS MELHORES DO ESTADO.- ass. José Chysantho – Diretor da D/OB.- venho apresentar V.Sa. e demais componentes Diretório PSD, os meus reconhecimentos pela valiosa colaboração, quando na capital Federal, pleitearam ao Exmº. Sr. Senador Filinto Muller, o restabelecimento do crédito para continuação das Obras da Uzina, paralisadas com a extinção do Território Federal de Ponta Porã”. Assina o ofício endereçado ao Cel. Firmino Vieira de Matos, DD. Presidente do P.S.D., o saudoso RUY GOMES.

O Território Federal de Ponta Porá, foi criado pelo Decreto-lei nº 5.812 do governo Vargas, em 13.09.1943. Abrangia o município de Ponta Porã, onde foi instalada sua capital e mais seis outros: Porto Murtinho, Bela Vista, DOURADOS, Miranda, Nioaque e Maracaju. A capital foi transferida para Maracaju em 31-05-1944 (Decr-lei 6.550), voltou para Ponta Porã, pelo Decr de 17-06-1946. O Território foi extinto em 18-09-1946, pela Constituição de 1946 e reintegrado ao Estado de Mato Grosso.

Extinto o território, paralisaram-se as obras da “Uzina”. A intervenção do Senador, conforme noticia o telegrama transcrito no Ofício de 1949, do saudoso Ruy Gomes, foi crucial para sua conclusão.

Explica-se assim, o por quê de a Usina levar o nome do Senador Filinto Müller.

* O autor é membro da Academia Douradense de Letras
([email protected])

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