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Opinião

Redescobertas

17 abril 2020 - 13h59Por ERMINIO GUEDES

Falei que seremos melhores depois da tragédia da Covd – 19. Isto porque ninguém passará incólume na ponte estreita da pandemia e todos perderão pedaços do excesso humano. Nunca o meio ambiente foi tão importante, a igualdade tão presente e o cotidiano tão íntimo, no refúgio virtuoso do recanto onde vivemos.

O mundo será menor, informatizado e fechado em barreiras sanitárias à pessoas e mercadorias. O Brasil encolherá mais de 5%, segundo o FMI. A tese do “estado mínimo” desaparecerá na Covid -19, provando que só um estado forte pode socorrer emergências socioeconômicas. Tudo depende do dinheiro público. A população quer viver e a economia pede subsídios para se manter. Portanto, é hora de grandeza nos conceitos, renunciando a doença, da ganância e do egoísmo febril e procurar curar a sociedade insustentável que temos. Não adianta imitar a avestruz na tempestade e, depois, se aproveitar da crise.

A maioria perde, mas o sistema econômico e político, não renuncia a nada. Ao contrário, os bancos, como sempre, ganharão e os políticos, bem estes, deveriam reduzir em 50% as suas benesses. O farão? Difícil dizer porque – os outros sim – eu não. Infelizmente, o pior vírus está, na ganância pela acumulação sem limites, cravado na alma humana, que a torna insensível, desumana e possuída por irracionalidade impiedosa.

Depois do fracasso deste modelo, virá outro, encobrindo os próprios erros, para depois, repetir o anterior. Resta a esperança na conduta social, capaz de quebrar o vício de fazer errado, fazendo perceber a linha tênue que separa o sucesso do fracasso.

Mas, algo extraordinário está na atmosfera onde nos encontramos mergulhados, que podem nos modificar. Estamos recuperando relíquias perdidas na estrada e sonhos sufocados em abstrações inúteis. O sentido da esperança, de sonhar, viver e mar, está batendo na porta. Estamos - um cuidando do outro – naquele olhar vigilante para ninguém fraquejar na saúde e na alegria. Me sinto confortado no olhar da amiga, forte, incansável e otimista, sempre vigilante, vendo tudo, inclusive a minha preocupação.

- “Monalisa, quantos lados loucos você tem”, para me perceber nesse momento de angústia? São momentos sublimes, de “sentir saudades” do calor humano, da mão estendida e do abraço da família e das amizades. São gestos de amor, no mate fraterno a dois, com tempo de prosa e ao bom filme, ou à reunião virtual da família. Até o churrasco que reunia a família, agora continua acolhedor como antes, mesmo em poucos. Estamos reaprendendo a viver isolados na água pura e no alimento saudável que nos dá saúde e, na perfeição do sol que ao se pôr, espanta a tristeza.

Às vezes, meio acabrunhado, nas saudosas lembranças do tempo, encosto no ombro amigo, de quem me enxerga e conforta. São momentos sagrados para recuperar sentimentos positivos, em lembranças que já estavam esquecidas e fortalecer energias ao futuro. A confiança vem no lar e nas cores mágicas do jardim. Até brincadeiras estão mais engraçadas.

Comovente este momento, singelo e realista, mas impregnado de afeto, afirmando confiança e revisando caminhos e atalhos da vida. A tempestade passará e deixará ensinamentos, de humanismo, fraternidade e pureza, como na água da infância. Passagens como esta, da Covid - 19, ensinam.


* O autor é Engenheiro Agrônomo, consultor