Menu
Buscarsexta, 19 de abril de 2024
(67) 99913-8196
Dourados
16°C
Artigos

O negacionismo do coronavírus, nosso maior flagelo social

12 junho 2020 - 21h45Por MADSON VALENTE

A força da negação é algo desafiante para religião e para ciência, pois é fator que promove sofrimentos e consequentemente degrada culturalmente a humanidade, são barreiras psicológicas que fazem com que inúmeras pessoas não se proponha a transpor, sejam por fatores de aceitação da sua condição social ou pela opção de ficar em uma zona de conforto, para que eventualmente não tenha que sentir o “chicote” daqueles que se sentem proprietários de modelos de sociedades que julgam e defendem serem ideais, não importando para estes que esta formatação social é excludente em sua essência.

Esta percepção de mundo é voltada a ideia de impor convicções, se utilizando dos piores mecanismos, entre estes podemos citar as sociedades medievais, os períodos escravocratas, os domínios pós guerras mundiais, que através do poderio econômico se impuseram culturalmente para uma doutrinação ideológica que secularmente promovem segregações sociais, nos primórdios da história os dominadores se utilizavam de açoites, chicotes, troncos, senzalas, depois no período militar vieram o pau-de-arara, palmatória,pimentinha, choque elétrico e nos tempos modernos se utilizam dos mecanismos virtuais,sendo as redes sociais a maior preocupação pelo uso indevido, alimentadas por robôs elegem inimigos e disparam através de fake news destruições em massa de reputações e de ódios as instituições constituídas, que são disseminadas diariamente, navegando na ignorância da maioria dos usuários destes meios,que automaticamente compartilham sem compreenderem ou não terem capacidade para tal, disseminando ideais de ódio, preconceitos, xenofobia, intolerância, interagindo um exército de pessoas que são vitimas também deste processo, criando uma espécie de terra sem leis e sem limites, algo absolutamente abominável.

O mundo contemporâneo vivencia um dos seus piores momentos, seja pela pandemia ou pelas grandes crises econômicas que já vivenciavam a Europa, EUA e obviamente o Brasil, já éramos 13 milhões de desempregados anteriormente ao vírus, já estávamos nos piores indicadores sociais da história da República, sendo que reconhecidamente o fator coronavírus veio para sacramentar nossa condição econômica que já estaria em declínio, negar isso, somente por conveniência.
O dia 11 de Março através da Organização Mundial da Saúde (OMS) declara a pandemia do Covid-19 e orienta o mundo para contenção da circulação do mesmo, estabelecendo pilares para que em um somatório de esforços obedecendo protocolos todos pudessem contribuir para diminuir a velocidade do vírus.

Baseados em experiências chinesas, italianas, espanholas e americanas, acreditávamos que o Brasil poderia conter a velocidade da propagação do vírus, todavia em principio fatores negativistas sobrepuseram aos propósitos de precauções recomendadas, visto que tal situação não interessaria aos interesses da economia, disseminando conceitos que se tornaram entraves para que ocorressem tomadas de consciências e consequentemente mudanças de posturas, não havia e ainda não há por parte de segmentos da sociedade aceitação de que estamos em momentos de excepcionalidade, portanto não há interesse por mudanças de comportamentos, pois estas não atendem os interesses daqueles que dominam setores produtivos, ou seja, economicamente não podemos parar.

Interessante observar que o isolamento e o distanciamento social são comprovadamente fatores que contribuem, temos como exemplo a China que é o país mais populoso do mundo e que devido ao comportamento está com menos mortos que o nosso país, sendo que a disciplina foi o fator determinante. Em um país cuja densidade populacional é altíssima se torna exemplar tão belo comportamento, ao mesmo tempo podemos fazer referências ao Paraguai que de forma absoluta preferiu a retração econômica que estimular o convívio social, estando quase apto para cautelosamente começar se inserir na normalidade, dentro de regras e orientações sanitárias e não de desejos econômicos.

O negacionismo é a escolha de negar a realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável, pois não se torna conveniente para os interesses que impactam e promovem prejuízos de ordem econômica, por isso em primeiro momento tivemos a negação, depois a relativização e por último estamos acompanhando transferências de culpas, sendo que estas ocorrem pelos cidadãos que são induzidos para tais interpretações e até mesmo pelos organismos institucionais, quando assistimos de forma estarrecedora atos de irresponsabilidade pública de alguns lideres políticos, empresariais, religiosos em minimizar os efeitos da pandemia, promovendo uma cultura de dúvidas, que serviu apenas ao capital.

É importante promovermos e elevarmos os princípios de vida, pois esta é única, não compensaria arriscá-la, crises econômicas são sucessivas, poderíamos citar várias, sendo que em todas ocorreram superações, vimos na história da humanidade países arrasados por guerras, mas alguns países ressurgiram das cinzas e se tornaram potências econômicas. Que esta reflexão chame atenção que antes da pandemia já existiam milhões de pessoas famintas, são milhares de crianças que diariamente morrem por desnutrição, principalmente na África subsaariana, que 1/3 da população mundial não tem acesso a água tratada e no Brasil são 40 milhões de brasileiros sem acesso a este serviço essencial e vital que contribui para esta dura estatística.

Que a mesma preocupação econômica nestes tempos de pandemia sirva nas mesmas proporções para converter os ideais mercantilistas em sentimentos de compaixão humana, que a ciência voltada para o desenvolvimento tecnológico das aviações, do automobilismo, de domínio do espaço sideral, do poder bélico e da medicina voltada para a estética transfira estes recursos e vertam para produção de ciência voltada ao combate de doenças, que os sistemas de saúde públicos obtenham atenções necessárias de recursos financeiros, científicos e tecnológicos.

Que este período seja também oportunidade de conversão, de reavaliação de conceitos estabelecidos e que tenhamos a compreensão da necessidade de contribuir para definir novos padrões de comportamentos, sustentados em valores éticos e cristãos, colocando os princípios de preservação de nossas vidas no mais alto patamar, isso que importa e somente isso tem valor, não sendo permitido neste caso que o mais voraz capitalista coloque preço, pois a vida é de valor imensurável.

Que a cultura negativista seja paulatinamente superada, para que consigamos evoluir humanisticamente, pois com propósitos nobres poderemos minimizar impactos dos autoflagelos sociais.

* O autor é vereador, professor, geógrafo e gerente regional da Sanesul em Dourados

Deixe seu Comentário

Leia Também