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Opinião

Não há Terapia e Profilaxia Medicamentosa para Covid-19

03 julho 2020 - 17h02Por ANDYANE F. TETILA

A incapacidade de grande parte da população, e de muitos médicos, de aceitar esse fato traz a ansiedade de adotar qualquer coisa para alimentar a ilusão de que se está “pelo menos tentando”.

A fama do remédio de piolho nesta pandemia teve início com um estudo feito por pesquisadores da Monash Univeristy, na Austrália, que mostrou atividade viral in vitro, ou seja, em cultura de células. As más notícias: a quantidade de medicamento necessária para inativar metade ou mais dos vírus presentes, mesmo num tubo de ensaio, era enorme, correspondendo a uma verdadeira overdose! A ivermectina é um antiparasitário muito usado para controle de piolho, pulgas e carrapatos em animais, incluindo seres humanos, e algumas verminoses. Pesquisadores calcularam qual seria a dose necessária para atingir uma concentração, no sangue de uma pessoa, suficiente para haver ação antiviral como a vista na bancada do laboratório. Para chegar ao nível necessário, teríamos que usar 17 vezes a dose máxima permitida para humanos. E essa dose máxima já é 100 vezes a dose usual recomendada. Como se trata de um medicamento neurotóxico e hepatotóxico, não parece uma boa ideia.

Na melhor das hipóteses, então, o único efeito direto da onda da ivermectina será uma população livre de vermes e piolhos.

Efeitos indiretos: custo, passando pela falsa sensação de segurança, levando ao relaxamento de medidas de contenção da disseminação do vírus.

Como no caso da cloroquina, há a possibilidade de o remédio acabar faltando para quem precisa de verdade.

O FDA/EUA inseriu um aviso em seu site, contraindicando o uso da ivermectina para COVID-19. Aqui no Brasil, vários estados estão distribuindo o medicamento como parte do “Kit COVID”. A composição do kit varia, podendo ou não conter hidroxicloroquina, antitérmicos, vitamina D e zinco. Tirando o antitérmico, o restante não tem comprovação científica de eficácia para COVID-19, e mesmo o antitérmico só serve para controlar sintomas. Para ivermectina, a história da cloroquina se repete.

Enquanto não há vacina, e medicação específica, a prevenção é o caminho: saia de casa somente se necessário. Não reúna familiares e amigos. Use sempre uma máscara. Higienize as mãos com frequência.

* A autora é Médica Infectologista, Mestre em Doenças Infecciosas e Parasitárias