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Opinião

Efeitos da pandemia, se não aprendemos, novas lições virão

30 dezembro 2020 - 22h20Por MADSON VALENTE

A sobrevivência humana sempre foi um desafio, desde os primórdios, sendo que os fatores determinantes para que os homens garantissem esta condição passou pela relação de controle do meio natural, explorando flora, fauna e subjugando povos, no primeiro momento prevaleceu a força física, depois através da inteligência se tornaram estrategistas e se impuseram dentro deste processo.

A pandemia do coronavírus promoveu exigência de novo comportamento social, baseada em protocolos científicos que identificaram que o distanciamento, utilização de máscaras e assepsia são as melhores precauções para inibir o contágio, entretanto identificamos que as resistências para o novo estilo de vida são alarmantes e desesperadoras, figurando com muito protagonismo interesses daqueles que dominam economicamente nossas nações.

Países em que ocorreram apelos pelas lideranças governamentais e que obtiveram receptividade por parte da população, navegam em números mais confortáveis, preservando vidas. Entre estes estão nossos vizinhos Paraguai, Uruguai e Costa Rica, com destaque para este último, que, mesmo tendo sua economia baseada no turismo, fechou suas fronteiras e restringiu viagens. Além disso, devemos fazer referências a alguns países asiáticos, com destaque para China e entre as potências mundiais destacam-se Japão e Nova Zelândia, demonstrando equilíbrio entre interesses econômicos e respeito a ciência.

Infelizmente alguns países, entre estes, Brasil e Estados Unidos, são os piores exemplos de prevenção à propagação da pandemia, sendo que suas populações foram estimuladas ao relativismo e negacionismo, tendo as redes sociais contribuído sobremaneira para impulsionar a descrença na ciência e simultaneamente atribuir à grande imprensa responsabilidades sensacionalistas para a situação.

Diante de tais situações analisamos que os comportamentos humanos historicamente não são condizentes, há uma crucificação do homem pelo homem, sendo estes incapazes de despertarem para o senso de comunhão, de bem estar coletivo, basta recorrermos às leituras bíblicas ou as grandes literaturas para identificarmos que nações inteiras foram dizimadas, que minorias subjugam a maioria da humanidade e que nos tempos atuais estamos vulneráveis aos interesses do grande capital, prevalecendo os ideais de consumo e as defesas dos modelos ideológicos de exploração, que outrora foi física e que atualmente de forma massiva é intelectual.

Poderíamos imaginar que diante destas lições os princípios de vida viessem sobrepor aos princípios de ideais mortíferos, pois quanto mais nos preocupamos com as economias, mais crescem os números de infectados, protelando a superação da pandemia e impactando sobremaneira o ritmo de produção, sendo um contra senso dos setores que se definem como produtivos. Ressaltamos que ampla maioria daqueles que morrem são pobres, pois estão mais expostas as aglomerações, sendo nossas empresas potencializadoras destas condições, devido à impossibilidade de distanciar-se. Observa-se ainda que a desigualdade social venha colaborar para tais números, visto que as casas desconfortáveis também são razões para que milhões estejam em ambientes de aglomeração, ainda mais em país de clima tropical, com altas temperaturas, observa-se ainda que as criações de necessidades que promovem desaculturação da população são associadas ao consumo. Citamos como exemplo o ódio aos dias de segunda-feira em contraponto as celebrações que ocorrem aos dias de sextas-feiras ou vésperas de feriados pelas mídias sociais, que associam a ideia de aglomerar-se e consumir, principalmente cervejas, elevando-se consideravelmente os índices de infectados nos finais de semana e promovendo maiores números de acidentes automobilísticos, sobrecarregando ainda mais nossos hospitais.

Por todas estas situações, se a pandemia não conseguir mudar comportamentos, fatalmente teremos conforme previsões recentes divulgadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde) novas pandemias e ainda mais resistentes. Embora saibamos que estas mudanças devem ser estruturais e culturais, percebemos que todos possuem condições colaborativas, sendo diferentes, portanto que os grandes conglomerados econômicos despertem para a responsabilidade social, que as nações mais ricas destinem recursos que possam socorrer os países mais pobres, visando maior alcance social, sobretudo ligados aos serviços de ampliações de saneamento, que a ciência tenha postura de maior comprometimento com a ética, que os governantes priorizem recursos para promover conhecimento, que a sociedade se eleve para espíritos de convivência harmônica com a natureza e reavalie as relações que tanto exploram e escravizam milhões de pessoas, caso contrário a atual pandemia não será suficiente para forçar um novo modelo social e como consequência inevitavelmente seremos submetidos para novas lições, com toda certeza, mais implacáveis.

Que conceitos estabelecidos e perpetuados sejam dissolvidos, que novos paradigmas de convivência social eclodam e se consolidem.


* O autor é Vereador, Geógrafo, Professor e Gerente da Sanesul em Dourados