Menu
Buscarquarta, 24 de abril de 2024
(67) 99913-8196
Dourados
25°C
Opinião

Artigo: Como comer um livro

31 agosto 2010 - 22h41Por Davi Roballo

Os leitores extraem dos livros, consoante o seu caráter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores retiram, uma o mel, a outra o veneno. Nietzsche

Há um grande engano acreditar que a leitura e os livros são a panacéia para a vida, para os relacionamentos, para o intelecto... Não são. Livros são como cozinhas e como tais possuem ingredientes para confeccionar comidas de alto nível, pratos medianos, alimento sem sal, como também coisas intragáveis. Assim como pode descortinar um novo horizonte diante dos nossos olhos, a leitura também pode nos imbecilizar e nos transformar em seres medíocres.

É importante ao leitor ao consumir uma obra estar ciente de que o conhecimento difere muito da crença. Só assim vai entender o porque de existir pessoas de altíssimo grau intelectual sujeitadas ainda a superstições e a crenças em estórias infantilizadas. Segundo Gustav Le Bon, isso dá-se por a crença agir no inconsciente do ser enquanto que o conhecimento age e forma-se no consciente, isto é, o ser humano é mais suscetível a formar e vivenciar uma crença do que construir conhecimento, pois, a construção de um repertório de conhecimento exige uma racionalização enquanto que a crença nada exige, simplesmente aloja-se no inconsciente.

Para Rubem Alves os livros devem ser encarados como comida, isto é, não podemos sair por ai comendo qualquer coisa. Um bom livro deve de ter bom cheiro, gosto e beleza. Deve nos provocar as mesmas sensações que nos provoca o perfume de uma boa comida, deve provocar água na boca como os bons pratos e deve possuir beleza como as que encantam nossos olhos. Se um livro possui essas características podemos então devorá-lo e quanto mais apetitoso mais desperta a vontade de consumi-lo.

Ler é como comer em todos os sentidos. Assim como na alimentação inadequada a leitura errada traz consequências. Há pessoas que comem demais e portanto, engordam em demasia. Pessoas obesas tem dificuldade de locomoção e outros males ocasionados pelo excesso de gordura. Numa clara analogia, existem pessoas que confundem conhecimento com muita leitura e para tanto não selecionam o que lêem e acabam “gordas” de informação e conteúdos supérfluos que não os deixam sair do lugar, como também as impedem de adequarem-se  a outros lugares.

Existem também aquelas pessoas que são exímios leitores de obras excelentes, as devoram e as transformam em conhecimento. No entanto, criam represas e diques mentais que  as impedem de repassar o conhecimento adquirido. São pessoas que sofrem de constipação intelectual, isto é, sabem muito, mas sabem somente para si, não conseguem passar adiante o que apreenderam, muito menos aplicar em favor da própria vida.

Para Nietzsche o bom leitor deixa a sua taça transbordar e rejubila-se pelos demais estarem comprazendo-se com o conhecimento que entorna, pois é ai que ele encontra o alivio para a angustia que invade o âmago de quem aprende a ler o mundo e as pessoas de forma critica e instigante. A leitura é uma chave que abre as janelas e as cortinas do mundo apresentando a quem se atreve a adentrar no mundo da leitura raciocinando, as pessoas e as coisas sem máscaras...

A cada dia a ampulheta da existência esvazia-se um pouco mais, por isso a necessidade de preenchê-la com boas coisas e isso inclui uma boa leitura. Nossa mente deve ser cultivada com boas idéias e conhecimento, pois, ele outorga determinado “poder” sobre nós mesmos. Para isso, a leitura deve ser balanceada como a comida saudável. Além do mais, no momento da leitura devemos vivenciar o que está sendo percorrido por nossos olhos, conscientes de que o autor seja quem for, não constituiu o que está repassando sozinho, isto é,  trata-se de uma soma de conhecimentos obtidos em varias fontes, como estas mal traçadas linhas que repasso....

O autor é Jornalista

[email protected]