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Bilionário suspeito de corrupção ganha comitê na Fifa

15 junho 2015 - 17h15

De inusitado, Tokyo Sexwale, 62 anos, não tem apenas o nome. O sul-africano conta com um currículo e tanto: luta contra o apartheid, prisão junto com Nelson Mandela, crescimento como liderança nacional. Tem predicados históricos para liderar o comitê que tentará mediar a paz futebolística entre Israel e Palestina, como a Fifa anunciou na sexta-feira. Porém, há uma certa ressalva: ele é suspeito de participar de um esquema milionário de corrupção.

Os detalhes divulgados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos sobre as recorrentes irregularidades na Fifa jogam dúvidas sobre Sexwale, um dos cabeças da candidatura da África do Sul como sede para a Copa do Mundo de 2010. Os documentos tratam de duas figuras, chamadas “coconspiradores 15 e 16”, que se encaixam no perfil do sul-africano. São pessoas, diz o texto, “do alto escalão do futebol sul-africano e membros do governo”. Sexwale é um dos poucos que exerceu as duas funções.

A acusação é de pagar propinas em troca de votos para a África do Sul como sede do Mundial. O americano Chuck Blazer, ex-membro do Comitê Executivo da Fifa, já confessou ter recebido dinheiro para ajudar a eleger o país. E um dos núcleos da investigação é o envio de US$ 10 milhões dos africanos, via Fifa, para a Concacaf – dinheiro que acabou usado pelo ex-presidente do órgão, Jack Warner. A suspeita, mais uma vez, é de suborno em troca de votos.

Sexwale admite que as desconfianças fazem sentido. O dinheiro, em tese, seria investido em projetos de desenvolvimento do futebol no Caribe – que jamais aconteceram. Mas garante: não teve relação alguma com a possível compra de votos. 

- Onde estão os documentos? Onde estão os orçamentos? Onde estão os projetos? – questionou, em entrevista à rede britânica BBC.

- Se nada disso existe, precisamos deixar a investigação do FBI intacta – complementa ele.

Sexwale se defendeu. E defendeu outros líderes da candidatura sul-africana. Garantiu que os US$ 10 milhões doados à Concacaf foram com a maior das boas intenções.

- Eu participei do sentimento daquela época, de que é uma coisa boa, um altruísmo. A questão tem que ser: o que foi feito para assegurar que as boas intenções fossem realizadas?

Controvérsias e apoio

Tokyo Sexwale é uma figura importante da história da África do Sul. Foi um dos principais combatentes contra o apartheid, o regime de segregação racial que comandou o país por quase meio século. Ele participou da luta armada implementada por movimentos negros que tentavam derrubar o poder e buscar igualdade de raças na nação. Acabou preso em 1976. Ficou detido até 1990. Esteve em Robben Island, a mesma cadeia de Nelson Mandela.

Quando ganhou liberdade, Sexwale foi nomeado por Mandela como governante da província de Gauteng. Virou ministro e chegou a ser considerado um potencial sucessor do maior líder sul-africano. Mas achou mais interessante investir em negócios. Mais precisamente, diamantes. Tornou-se um bilionário.

O roteiro cinematográfico da vida de Sexwale inclui peculiaridades de cunho pessoal. Seu primeiro nome, Tokyo, é fruto da paixão dele por karatê. E seu sobrenome, que rende trocadilhos sexuais em países de língua inglesa, passou a fazer mais sentido quando ele entrou em um escândalo matrimonial.

Sexwale casou com Judy van Vuuren, que participou de sua defesa quando ele esteve na prisão. Após 20 anos juntos, eles tiveram uma separação traumática. Ele descobriu que ela tinha um caso com um dos seguranças da família. E acusou os amantes de usarem pornografia pesada em trocas de e-mails - de conteúdo ilegal no país.

Polêmicas à parte, ele tem todo o apoio do comando da Fifa. Tanto que foi eleito por Blatter para mediar a animosidade entre Israel e Palestina - os palestinos pediram a exclusão dos israelenses da Fifa no último Congresso.

- Dada sua experiência na reconciliação de comunidades e na resolução de conflitos na África do Sul, acreditamos que o senhor Sexwale está bem escolhido para ajudar a melhorar o acesso do futebol em territórios palestinos - disse o presidente da Fifa.