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Saúde

Pesquisadora adverte sobre perigos do uso de agrotóxicos na saúde coletiva

25 abril 2019 - 21h08

O Brasil é o líder mundial no consumo de agrotóxicos, com 7,3 litros por ano para cada um dos habitantes do país. Em Mato Grosso do Sul a taxa é de 40 litros, quase seis vezes a mais do que a média nacional. De acordo com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), foram registrados 4 mil casos de intoxicação por agrotóxicos em 2017 no Brasil, quase o dobro de registros em relação a uma década atrás. Em 2018, 154 pessoas morreram por conta do contato com veneno.

Para falar sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde coletiva, a pesquisadora da Fiocruz, doutora Fernanda Savicki de Almeida, participou de Audiência Pública em Dourados nesta quinta-feira (25), na Câmara de Dourados, atendendo a convite do vereador Elias Ishy. A palestrante do evento também é integrante da Comissão de Estudo dos Impactos dos Agrotóxicos em Mato Grosso do Sul.

Segundo Fernanda, as consequências dos modelos de desenvolvimento refletem em outras áreas, como na saúde e educação e em outras partes da economia do Brasil. Essa situação fica cada vez mais clara, afirma, com a crise mundial e o cenário político atual, como o de flexibilização das leis e a força da indústria agroquímico-farmacêutica sobre determinados governos.

A palestrante vai abordar um pouco das condições dos índices de tolerância de resíduos permitidos pela legislação brasileira, as contaminações ambientais, casos de doenças relacionadas e os problemas gerados ao SUS (Sistema Único de Saúde). “O interesse financeiro está, muitas vezes, acima da saúde e do meio ambiente. O quanto isso onera, o que representa para a nossa realidade?”, questiona.

Ela lembra que estudos nacionais e internacionais revelam que, além do câncer, os agrotóxicos provocam alterações nas funções sexuais, atrofia dos testículos, puberdade precoce, diabetes, infertilidade, malformações fetais, aborto, endometriose, disfunções de tireoide, obesidade, parkison, entre outras consequências.

Fernanda explica que o avanço no uso dos agrotóxicos no país faz um movimento contrário ao do mundo, que vem proibindo e reavaliando muitas substâncias. É o caso da Europa, como exemplo do ‘paraquate’, oitavo agrotóxico mais vendido aqui e proibido no território europeu desde 2007, associado a envenenamentos fatais.

Em 2019, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) aprovou o uso de 121 produtos elaborados com agrotóxicos nos dois primeiros meses do atual governo e liberou o registro de 31 novos agrotóxicos. Entre os produtos, 16 foram considerados extremamente tóxicos pela Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Já o ‘glisofato’, apontado como causador de câncer em julgamento na Califórnia, segue permitido no Brasil.

Para Fernanda, contrária a decisão de manter o registro do glisofato, esse é apenas um exemplo de que se deve manter o debate, principalmente, aberto com a população. Além disso, ela destaca o importante papel da imprensa, de continuar questionando. Como pesquisadora, ela afirma que a discussão deve ser pautada em diversos espaços, nas universidades, escolas, sempre que surgir a oportunidade, bem como ficar atentos aos projetos de leis.

O vereador Ishy, propositor do evento, acredita que o trabalho na Câmara é justamente esse, de garantir a participação, o controle social e a transparência nas ações do Poder Público e que falar sobre o assunto é oportuno para o momento que o país enfrenta, de retrocessos em vários setores. (Com assessoria)