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"Mosca do estábulo" provoca prejuizos a agricultores próximos de usinas

31 agosto 2010 - 18h28Por Redação Douranews

O deputado estadual Ary Rigo (PSDB) levantou na sessão da Assembléia Legislativa desta terça-feira (31 de agosto) o debate sobre a proliferação da mosca do estábulo em Mato Grosso do Sul e os prejuízos causados na produção pecuária. A mosca do estábulo (Stomoxys calcitrans), se alimenta unicamente de sangue, o que provoca inúmeros danos, como exemplo, a perda de peso de animais – cerca de meio quilo por dia – bem como o surgimento de feridas na mama das vacas, provocando a morte de bezerros que não conseguem se alimentar. A praga costuma atuar num raio de 15 quilômetros.

Rigo apontou como principal causador da proliferação da mosca as usinas de cana no Estado, listando as usinas de Vista Alegre, Monte Verde, e as que funcionam nos municípios de Angélica e Nova Alvorada do Sul. “A usina corta a cana e deixa a cobertura de palha no solo. A larva do mosquito procura exatamente a celulose (cana). Por conta do solo irregular são criadas poças de vinhoto, que é o alimento da mosca”, explicou. O vinhoto é a sobra da destilação do caldo da cana fermentado, usado como fertilizante e potencial poluente se jogado nos rios.

O primeiro secretário da Assembleia Legislativa lembrou que trouxe o mesmo debate no ano passado à Casa de Leis e que, um ano depois, ainda não há nenhum combate químico aprovado contra a praga. Ary Rigo apontou como solução incorporar o vinhoto no solo. A técnica consiste em, depois de espalhado o vinhoto, utilizar maquinário que, na prática, aterra o vinhoto. Assim, a mosca não teria condições de se alimentar.

O deputado criticou duramente as usinas de álcool do Estado e disse que, por inúmeras vezes, tem procurado os representantes do setor para discutir soluções, sem, no entanto, obter êxito. “As usinas provocaram um desequilíbrio ecológico. O prejuízo para quem mora ou tenha produção de carne ou de leite, num raio de 15 quilômetros, é incalculável. Nesse capitalismo selvagem que aí está é na usina que o mosquito se cria e prolifera”, disse.

Ary Rigo ainda citou a experiência própria para embasar seu posicionamento. Afirmou que em suas propriedades rurais, em Dourados, situada num raio de 10 quilômetros em linha reta da usina Monte Verde, e em Maracaju, próxima da Usina Vista Alegre, os danos provocados pela mosca são nitidamente visíveis. “Se você andar com o vidro do carro aberto, por 10 minutos, tem que sair do carro porque não aguenta os mosquitos que atacam orelha, pescoço, mãos. Os próprios peões não suportam as feridas. Agora imagine os animais que sofrem o ataque violento durante o dia”, exemplificou, comentando os danos causados também aos seres humanos.

Segundo o parlamentar, caberia a Embrapa Gado de Corte apontar uma solução para que, posteriormente, a sugestão seja levada para o governo do Estado. “O governador André Puccinelli e a secretária de Produção, Tereza Cristina, se comprometeram com o caso. A Embrapa tem dado atenção, mas não tem atuado com a rapidez que o problema exige”, criticou.

CPI
contra usinas

Durante discurso na tribuna, Rigo comentou que o presidente da Casa, Jerson Domingos, chegou a sugerir uma possível criação de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a atuação das usinas de álcool no Estado. No entanto, o primeiro secretário da Assembleia pediu um prazo de dez dias para encontrar solução, em parceria com o governo do Estado e Famasul. “Mas se os representantes das usinas não tomarem providência, em dez dias, serei o primeiro a assinar a CPI”, garantiu.

Em aparte ao discurso de Ary Rigo, os deputados Amarildo Cruz, Márcio Fernandes, Pedro Teruel, Pedro Kemp e Carlos Marun enalteceram a importância da discussão do tema e se mostraram dispostos a somar esforços no intuito de resolver a questão, além de engrossarem a necessidade de maior cobrança sobre a atuação das usinas. O deputado Pedro Kemp sugeriu medidas par limitar a utilização do vinhoto por meio de emenda à lei que liberou o plantio da cana em Mato Grosso do Sul.

Saiba mais sobre o tema

Segundo publicação da Saúde Animal, em junho de 2009, a Stomoxys calcitrans é semelhante à mosca doméstica e “se multiplica durantes os meses mais quentes do ano. A postura dos ovos é feita preferencialmente nas fezes de cavalos, mas, na sua ausência, são utilizados como substrato cama de frango, palha do café, vinhoto, resíduos do processo de fabricação de celulose, restos de frutas, etc. A eclosão dos ovos ocorre de cinco a dez dias após a postura, dependendo da temperatura. O inseto adulto, que se alimenta exclusivamente de sangue, vive quatro semanas”.

Em outro trecho da publicação, consta que a mosca dos estábulos se instala nas “patas e região ventral, locais onde a vassoura da cauda não alcança. Embora geralmente infeste os animais nas proximidades de seu criatório, pode voar num raio de até 5 km, caso não encontre um animal de sangue quente para se alimentar, hábito que pratica três/quatro vezes ao dia”. A praga estressa os animais e pode, ainda segundo matéria da Saúde Animal, ser um vetor de agentes patogênicos, como vírus, bactérias e protozoários, e assim transmitir inúmeras doenças. Atacados pela mosca, os animais se aglomeram próximos uns aos outros, se esfregando para tentar se proteger das picadas.