Mário Munhoz, pai da médica reumatologista Gabriela Munhoz, de 31 anos, demitida do Hospital Sírio-Libanês na última quinta-feira (2), suspeita de vazar dados sigilosos sobre o estado de saúde da ex-primeira-dama dona Marisa Letícia, negou que sua filha tenha divulgado exames ou feito comentários maldosos sobre a esposa do ex-presidente Lula nas redes sociais.
“Ela não teve acesso a nenhum tipo de prontuário, não atendeu a dona Marisa, não viu dona Marisa. Ela ficou sabendo que a dona Marisa estava lá pela internet", afirmou.
Em entrevista ao G1 por telefone, ele disse que a filha já recebeu mais de 250 ameaças e que também foi despedida de um dos hospitais públicos em que trabalhava na capital paulista. “Ela está sendo ameaçada de morte, está sob tratamento e medicação por conta do abalo emocional”, revela.
Segundo Munhoz, que também é médico, os comentários feitos por Gabriela em um grupo de WhatsApp e divulgados na imprensa foram descontextualizados. Gabriela estava de plantão no dia 24 de janeiro, data em que a ex-primeira-dama foi hospitalizada no Sírio-Libanês.
De acordo com a família da médica, no mesmo dia, colegas de faculdade dela postaram em grupo de mensagens no aplicativo imagens da tomografia que a ex-primeira-dama havia feito em um hospital em São Bernardo do Campo, no ABC, e que tinham sido divulgadas por um outro profissional.
“Alguém postou, não foi ela. Postaram lá. E questionaram ela: 'Gabi, e aí?' Embaixo da imagem postaram: 'Fisher quatro'. O Fisher quatro não é nem quadro clínico, nem diagnóstico. Isso daí é um laudo radiológico [...]. A resposta que ela deu foi em cima de uma colocação que tinha lá no grupo dela.”
Ele alega que um dos médicos que estava no grupo tirou uma cópia do trecho em que Gabriela comenta e encaminhou para outras pessoas. “E isso se expandiu para o Brasil afora. E estão dizendo, sem o contexto anterior, sem ver os prints anteriores, que ela fez um furo de diagnóstico, fez uma perda de sigilo médico”.
Segundo Munhoz, na participação de Gabriela no grupo de mensagens, ela confirma informações que tinham sido divulgadas horas antes em boletim médico. "O horário é fundamental. Foi às 19h20. O Brasil inteiro já sabia de tudo", disse. Entretanto, ao escrever que dona Marisa estava realizando exames e ainda não tinha sido levada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a médica teria cometido um erro de digitação que gerou interpretações, de acordo com ele, equivocadas.
“Quando ela falou UTI o corretor de texto corrigiu para 'uro'. Um colega imediatamente falou: 'Uro não, brincando'. Porque uma pessoa com AVC subir para a urologia não tem nada a ver. Aí ela botou UTI e deu uma risadinha. Mas foi uma risadinha com relação ao colega.”
Na avaliação de Munhoz, o Hospital Sírio-Libanês errou ao demitir sua filha por justa causa sem abrir uma sindicância ou apurar os fatos. "Não fizeram nenhum tipo de levantamento, sem direito à defesa nenhuma." Ele afirma que para ter acesso aos prontuários médicos é necessário login e senha, e que seria possível comprovar que Gabriela não fez nenhuma consulta sobre o quadro de saúde da ex-primeira-dama.
O pai da médica diz temer pela saúde e carreira da filha e diz que ela espera conseguir esclarecer o ocorrido à família do ex-presidente Lula. “Uma das coisas que mais está preocupando ela é a família Lula achar que ela desejou mal. Isso está transtornando ela demais (...). Queremos conversar com a família do Lula e dizer que ela jamais fez algum tipo de ofensa para a dona Marisa, sempre torceu para ela melhorar. A gente não tinha nada contra eles, de maneira nenhuma.”
Ele também comenta que nas redes sociais circula uma imagem de uma jovem vestida supostamente médica com um cartaz contrário ao ex-presidente Lula. A imagem estaria sendo atribuída a Gabriela. "Tem até uma foto de uma pessoa de branco segurando um cartaz contra o Lula e estão dizendo que é ela. Ela nunca participou de protesto nenhum. Isso é uma inverdade, uma mentira de gente que fez disso daí uma briga partidária. Não temos nada com isso. Isso não tem cabimento e nunca teve na nossa casa. É um absurdo."