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Brasil

Protestos contra PEC dos Gastos e cortes em políticas sociais marcam entrega de comenda

24 novembro 2016 - 18h37

A entrega da Comenda Abdias Nascimento pelo Senado, nesta quinta-feira (24), foi palco de protestos de representantes do movimento negro contra a PEC do Teto dos Gastos Públicos (PEC 55/2016) e outras ações do governo Temer que estariam desmantelando conquistas sociais e econômicas da população afrodescendente. Essa é a terceira edição da premiação, entregue a personalidades que se destacam na proteção e promoção da cultura afro-brasileira. O conselho da Comenda é presidido pelo senador Paulo Paim (PT-RS).

- A PEC 55 traz atos que atentam contra a Constituição. Em 2016, vemos os Poderes Legislativo e Executivo aniquilando políticas públicas de equidade para a população negra – acusou Jaqueline Silva, que recebeu a homenagem pelo Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune).

A Comenda Abdias Nascimento foi entregue ainda à cantora Zezé Motta, impedida de vir à cerimônia por compromissos profissionais, mas que gravou um vídeo ressaltando a dignidade com que o jornalista e ex-senador Abdias Nascimento cumpriu sua missão. A lista de agraciados incluiu também o percussionista Naná Vasconcelos (in memoriam) e o cantor Lazzo Matumbi, que destacou o ensinamento deixado por Abdias de sempre lutar e resistir para que o Brasil alcance o ideal de respeito às diferenças.

Racismo

Quem também fez um relato de impacto na cerimônia foi a senadora Regina Sousa (PT-PI).

- Na minha trajetória, eu não tinha sentido o racismo muito presente, mas senti depois que estou no Senado. Dizem que eu não tenho cara de senadora, que tenho cara de analfabeta, apesar de ter curso superior e especialização. Só pode ser pelo meu cabelo "pichaim" o motivo para me retaliarem – disse, acrescentando que as políticas compensatórias para a população afrodescendente não vão mais caber no Orçamento modificado pela PEC 55/2016.

Idealizadora da comenda, junto com Paim, a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) também chamou atenção para a recente ruptura de políticas públicas pactuadas com o movimento negro brasileiro. Paim ressaltou, por sua vez, que a consciência negra tem como preceito a liberdade e como pré-requisito políticas de igualdade.

Lídice lembrou ainda, em seu discurso, que Lázaro Ramos seria um dos agraciados de 2016. No início de novembro, entretanto, o ator enviou nota ao conselho dizendo não se sentir “confortável nem desejoso de nenhuma homenagem”.

“O momento do país é de conscientização, de organização para compreender em que momento histórico estamos e quais passos precisamos dar para fazer com que a tão sonhada igualdade aconteça um dia de verdade. Então, por esse motivo, recuso essa homenagem”, justificou Lázaro Ramos na nota.

Quem também se manifestou durante o evento foi o senador Wellington Fagundes (PR-MT), que indicou a Imune para a premiação. Na ocasião, ele reconheceu que, no Brasil, “não fomos educados como uma nação pluriétnica”. Mas revelou a esperança de, no futuro, “não precisarmos ter um dia de consciência negra, parda, branca, amarela, mas 365 dias de consciência humana”.