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Toque de recolher impoe ritmo do medo na periferia de São Paulo

11 novembro 2012 - 14h18Por Redação Douranews

O telefone do açougue tocou logo após as 17h30 de quarta-feira (7) e a funcionária ouviu uma voz que mandava fechar o comércio naquele momento. Se não obedecesse, alguém ia descer bala na loja. Avisado da ligação, o gerente imediatamente começou a baixar as portas. "Não vou esperar para ver", afirmou ele, assustado, cercado por auxiliares nervosos, que foram dispensados do expediente da loja de carnes três horas mais cedo.

O açougue fica na esquina da avenida Deputado Cantídio Sampaio com a rua Avoante, no Jardim Damasceno, vizinho à Vila Brasilândia, na zona norte. A região vive assombrada por uma onda de toques de recolher, ameaças a comerciantes, tiroteios e uma Operação Saturação da Polícia Militar, deflagrada após bandidos executarem a soldado Marta Umbelina da Silva, na noite de sábado da semana passada, na frente da filha de 11 anos.

Dois dias após o assassinato da PM, marginais atearam fogo a um ônibus na ladeira da rua Santa Cruz da Conceição, no Jardim Guarani, atropelaram três pessoas, mataram um homem e trocaram tiros com a PM. Menos de uma hora depois, homens não identificados atiraram em um grupo de moradores na calçada, a cem metros da ladeira, baleando o instalador de som Carlos Eduardo dos Santos, de 20 anos, que morreu no hospital, e o ajudante Luis Ricardo Romão, de 25, que morreu um dia depois.

O medo se espalhou. Nos dias seguintes, a vida ficou tensa também no Jardim Carumbé e na Parada de Taipas. A PM reforçou a presença na área e o toque de recolher no início da noite passou a ser voz corrente nas comunidades. Na Cantídio Sampaio, o temor da ordem dada por telefone para o açougue levou ao fechamento antecipado do mercadinho vizinho e da loja de pássaros, na mesma calçada.

Segundo um soldado do posto policial da avenida, a ordem é dada pelo crime. "Quem dá a ordem é o bandido do local. A gente nem fica sabendo porque os comerciantes não avisam", disse o soldado. De acordo com lojistas, é exatamente ao cair da noite que o faturamento deles melhora. "É no fim do dia que as lojas vendem bem porque o pessoal chega do centro nos ônibus e passa por aqui antes de subir para casa", afirmou um comerciante, assustado, pedindo para não ser identificado. "Mas, se o açougue fecha, não dá pra ficar sozinho aqui. A gente fecha também". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.