Tradicional área de cria de gado, o oeste de Mato Grosso do Sul tem como desafio investir em tecnologia para melhorar a qualidade das pastagens, como forma de crescer e equilibrar a oferta de bovinos durante a entressafra, no período da seca, avaliaram pecuaristas de região.
A região, na área que engloba o Pantanal, concentra a cria de bezerros que posteriomente seguem para o sul e leste do Estado para engorda e abate, abastecendo grandes frigoríficos.
Mato Grosso do Sul possui o quarto maior rebanho nacional, com cerca de 21 milhões de cabeças de gado, e sua produção abastece frigoríficos locais e de outros Estados, que buscam animais para abater a fim de atender à demanda interna e mercados externos.
"A expansão de área aqui tem velocidade menor... para crescer só aumentando a eficiência. O diferencial aqui é melhorar a pastagem", disse o pecuarista João Carlos Marson, especializado na cria de animais, com ênfase no melhoramento genético, durante encontro com produtores realizado pelo Rally da Pecuária, expedição técnica acompanhada pela Reuters.
Marson tem duas propriedades de 1.800 hectares cada, ambas no município de Miranda. Uma está situada em pontos mais elevados, onde ele investe no manejo de pastagens, com correção e adubação de solo para garantir maior oferta de pasto no período entre outubro e abril, quando as áreas do Pantanal costumam alagar.
No período mais seco entre abril a outubro, os animais são levados para a propriedade situada na parte mais baixa, nas áreas de pasto nativo da região pantaneira.
"O desafio é equalizar a produção de verão e a de inverno. O gargalo está no desequilíbrio de oferta nestes períodos", afirmou o pecuarista, que conta com um rebanho médio de 3.200 cabeças e comercializa em média 600 animais por ano, sobretudo potenciais touros, que seguirão para outras fazendas, sendo destinados à reprodução.
Diferentemente de outras regiões, onde a pecuária acaba cedendo espaço para culturas de alta rentabilidade como a soja, milho e o eucalipto, a área sofre menor pressão dessas commodities por conta das limitações de avanço impostas pelo bioma Pantanal.
Ele observa que, apesar de contar com áreas muito férteis, o regime de chuvas combinado com o tipo de solo local dificultam a entrada de máquinas no intervalo das precipitações, diminuindo a janela de plantio e encarecendo o sistema de cultivo. Além disso, estas culturas não estão previstas no zoneamento agrícola que define as condições de plantio por região, o que inviabiliza o acesso a crédito.
Maurício Nogueira, diretor da Bigma Consultoria, que organiza a expedição juntamente com a Agroconsult, observa que investir na linha de reprodução é uma característica local, mas que a região precisa melhorar as pastagens.
Ele conta que uma das tecnologias mais usadas na região é a concentração do período de reprodução dos animais através da técnica de inseminação artificial em tempo fixo (IATF). Com isso, os criadores sincronizam e concentram o nascimento de bezerros na mesma época do ano, o que traz melhoria genética e ganhos operacionais pela economia com mão de obra.
"Mato Grosso do Sul está mais avançado na parte de zootecnia... Mas o ideal é aliar índices zootécnicos e agronômicos. A condição de pasto precisa melhorar", explicou.
Isso inclui a correção do solo, a adubação e manejo adequado, com a distribuição e rotação dos animais em áreas menores para a melhor aproveitamento das pastagens.