Menu
Buscarquinta, 18 de abril de 2024
(67) 99913-8196
Dourados
13°C
Wander Medeiros

Colunista: UNS CONTRA OS OUTROS

02 maio 2016 - 21h06Por Wander Medeiros A. da Costa

Wander coluna Há um movimento em marcha para nos colocarmos uns contra os outros, que não admite meio termo ou ponderação, obrigatoriamente você terá de escolher um lado.

Você já escolheu o seu?

A simplificação extremista, dual e antagônica já seria por si só uma grande mazela diante da natural diversidade humana e social, mas tudo fica pior se considerarmos que cada parte não se permite dialogar com a outra, o pressuposto de ambos é de serem o único lado “certo”, escolhidos por uma centelha divina para travar uma batalha épica do bem contra o mal.

Como é impossível manter um diálogo franco com o “capeta” – presume-se que sendo ele o pai da mentira qualquer milonga é perda de tempo – seja qual for o argumento posto, e venha de quem vier, o ponto de partida é sempre o mesmo, ofensas irrogadas contra o adverso, desqualificações de baixo calão e todo um sortilégio de analogias depreciativas como “coxinhas” e “mortadelas”, “fascistas” e “petralhas”, e no desdobramento mais recente desse mar crescente de intolerância, o fundo do poço, ou melhor dizendo, a cusparada.

Para Umberto Eco a culpa é da internet e suas mídias sociais, ambas culpadas por darem voz a uma “legião de imbecis”.

Será isso mesmo? Desconfio que exista algo mais por trás desse angu.

Assisto ao vídeo de Paulo Henrique Amorin, jornalista de longa carreira, conhecido nacionalmente, ganhador do prêmio Esso inclusive, vociferando que “tem que demitir a polícia federal toda, do diretor geral, esse daielo, até o contínuo que serve cafezinho, é uma polícia federal golpista, irresponsável, criminosa, subversiva e sempre foi assim e sempre se soube”.

De outro lado, Reinaldo Azevedo, também jornalista de carreira, articulista da revista de maior circulação nacional – Veja –, e de um dos maiores jornais do país – Folha de São Paulo –, afirma sem nenhum pudor que Oscar Niemeyer possuía uma tal “metade idiota” que era “também asquerosa” assim como o colunista transgénero Laerte é uma “baranga moral”, e quando confrontado por aqueles QUE discordam de sua ideias, sua melhor resposta, “Ora, vão plantar batatas!”.

A lista é grande, poderíamos falar ainda sobre Rodrigo Constantino, Jean Wyllys, Jair Bolsonaro, José de Abreu, Roger Moreira, entre tantos outros que elegeram as ofensas morais ao primeiro patamar de qualquer discussão, e são exemplos dessa onda ideológica que nos divide cada vez mais, colocando uns contra os outros.

Se vislumbro esse tipo de exemplo de profissionais experientes do meio jornalístico, políticos ocupantes de cargos públicos relevantes e artistas reconhecidos, decerto que não posso culpar a internet e suas mídias sociais, tampouco do cidadão anônimo que encontra neste espaço um veículo para gizar toda sua irresignação.

O grande problema, meu dileto amigo que me acompanha até aqui, é que até daria para relativizar a nocividade dos extremismos, neste aspecto cala fundo a liberdade de pensamento de cada um (CFRB, art. 5º), ao meu sentir o verdadeiro mal que esta por trás dessa onda é a negativa deliberada ao diálogo, aquela premissa básica fincada por Voltare sobre que podemos até não concordar com o que estamos ouvindo, mas QUE precisamos preservar o direito do nosso adverso EM dizê-lo.

E como estabelecer uma relação dialética com alguém te chamando de “bandido, safado, mentiroso, e etc, etc, etc”? Evidente que não há meio de se evoluir para lugar algum quando se age assim, o destino disso só pode ser o caos. Da minha experiência pessoal como professor, aprendi na sala de aula que saber respeitar o momento da fala do outro, compreender seus signos e firmar argumentos contrapostos pelo conteúdo e não por ofensas pessoais, constitui premissa básica do processo ensino-aprendizagem, essencial para o crescimento pessoal e da ciência.

Portanto, meu dileto amigo, te convoco para juntos darmos uma guinada nesta situação, nos tornarmos os novos rebeldes da dialética, fundamentalistas do diálogo, extremistas do meio termo e da ponderação, e tendo como nosso alicerce o princípio fundamental de que “não proferiremos xingamentos”, nem que para isso tenhamos que pagar o preço de sermos taxados de “isentões”, “blasé”, “fora de moda”, “intelectuais ultrapassados”, e etc, etc, etc, fique firme, não se abale, o estudo e a ciência ainda te salvam.

Arthur Schopenhauer em sua obra clássica sobre como vencer debates – e lembre-se, nosso objetivo aqui não é “vencer”, mas sim “crescer” –, previu a possibilidade dos ataques pessoais – os “argumentum ad personam”–, mas veja, de tão sórdida, rasteira e apequenada é esse tipo de conduta que o próprio autor, nessa miríade infindável de possibilidades de ação, soube qualificar esse ato como “o último recurso” de “quando se percebe que o oponente é superior e que vamos nos dar mal”.

E dai, você já escolheu o seu lado?

*O autor é Advogado, Professor da UEMS e Procurador de Entidades Públicas do MS - [email protected] - facebook: Wander Medeiros