Sistemas Agroflorestais Biodiversos, conhecidos como SAFs, proporcionam diferentes benefícios e contribuem com o melhor controle de temperatura, da umidade relativa do ar e da umidade do solo. Por causa disso, a adoção de SAFs proporciona mudanças significativas no microclima de uma propriedade rural. É o que demonstra pesquisa realizada na região de Dourados, no Sul de Mato Grosso do Sul, pela Embrapa Agropecuária Oeste. Os SAFs reúnem cultivos de espécies de árvores nativas ou exóticas madeiráveis, frutíferas, oleaginosas, medicinais, entre outras, de forma simultânea e no mesmo ambiente.
De acordo com o responsável pelo trabalho, o pesquisador da Embrapa Milton Parron Padovan, a presença de árvores proporcionou melhor controle de temperatura, da umidade relativa do ar e da umidade do solo. O especialista conta que estudos desenvolvidos por diferentes grupos de pesquisa constataram, no horário entre 12 e 15 horas, diferenças de 2ºC a 15ºC a menos dentro de SAFs em relação a áreas abertas, sem a presença de árvores. "Esses trabalhos também constataram que a umidade do ar oscila menos dentro de SAFs ao longo do dia", informa Padovan.
Além disso, houve regulação da temperatura do ar, reduzindo sua variação ao longo do dia e, consequentemente, tornando o ambiente mais estável, o que traz benefícios às plantas e aos animais componentes desses sistemas. "Outra vantagem é a proteção que as árvores proporcionam fazendo papel de quebra-ventos", explica o cientista.
A redução da velocidade do vento é importante para os sistemas produtivos agrícolas, até mesmo para as pastagens, pois os ventos podem prejudicar o crescimento das plantas. A agitação excessiva das folhas prejudica o desenvolvimento sadio da cultura. Essa vantagem pode resultar em incremento do rendimento das culturas agrícolas e das pastagens. Outra alteração causada pela presença das árvores nos SAFs, explica Padovan, ocorre com a temperatura do solo que passa a ser mais estável no sistema. "Dessa forma, a modificação do microclima repercute sobre o balanço hídrico do solo, proporcionando aumento da umidade disponível para as plantas que se encontram cultivadas embaixo das árvores, devido à redução da radiação que chega ao solo", salienta Padovan.
O trabalho integra o projeto de pesquisa "Sistemas agroflorestais biodiversos: produção de alimentos, geração de renda e recuperação ambiental – Safara – Fase 1". Para o pesquisador, o estudo deve subsidiar a adoção de SAFs. "Estão sendo gerados dados que subsidiarão o aprimoramento das políticas públicas atuais e ainda contribuirão para a criação de novas que apoiem a implantação de SAFs", informa Padovan.
De acordo com o agrometeorologista da Embrapa em Dourados, Carlos Ricardo Fietz, o microclima se caracteriza pelas variações climáticas que acontecem numa determinada região de acordo com o tipo de clima predominante. “Ele reflete alterações no ambiente natural, feitas pela utilização do solo e do ambiente para fins de desenvolvimento de atividades econômicas, por meio das diversas atividades laborais humanas”, explica.
Experiência comprovada
O produtor rural Antônio Paulo Ribeiro trabalha há nove anos com SAFs em uma propriedade localizada na zona rural de Dourados. Ele cultiva citros e palmito pupunha como espécies principais para geração de renda que são consorciadas com várias outras espécies arbustivas e arbóreas para a melhoria ambiental, produção de alimentos e comercialização dos excedentes da produção. E observa que a produção no sistema tem se mantido constante, resultado do microclima equilibrado dentro do SAF. "Antes da implantação do SAF, aqui era muito quente. Essas novas temperaturas constantes ao longo do ano também reduziram a incidência de pragas e doenças", informa Ribeiro.
O produtor rural Antônio Weber trabalha há dez anos com SAFs. Ele conta que há alguns anos cultivava soja e milho, porém resolveu mudar o foco de produção e, atualmente, possui em sua propriedade na zona rural de Dourados um sistema em que cultiva grande variedade de árvores frutíferas, palmito, além de produzir diversos alimentos, como: mandioca, amendoim, gergelim, milho, feijão-de-corda, tomate e cana-de-açúcar para produção de garapa orgânica. Ele conta que o clima da propriedade mudou, e agora é muito mais fresco devido às árvores e que a umidade do solo, em função das palhadas, também melhorou, pois a água permanece mais tempo no solo. "Os SAFs são uma contribuição fantástica para a coletividade. Acredito que estou fazendo a minha parte, que esse sistema produtivo favorece a fauna, a flora e contribui com qualidade de vida de todos, pois tem inúmeros benefícios ambientais. Não me arrependo de ter mudado o sistema produtivo. Ao contrário, hoje sou um incentivador da implantação dos SAFs", disse o produtor.