Sexo, drogas e rock and roll. A biografia Mick Jagger (Companhia das Letras, 624 págs., R$ 49,50, nas livrarias dia 25) não deixa muito espaço para outros assuntos além desses três no dossiê sobre o vocalista dos Rolling Stones. E são duas centenas de páginas a mais que a biografia de seu grupo musical, publicada há quase 30 anos pelo mesmo autor, Symphony for the Devil: The Rolling Stones Story (1983), escrita pelo jornalista inglês Philip Norman, autor de biografias de John Lennon e Elton John.
Não se pode dizer que Mick Jagger seja o que se convencionou chamar de uma biografia chapa branca, até porque o ícone do rock surge no livro como um superstar arrogante, sovina, narcisista e predador - enfim, um Casanova pouco preocupado com suas presas sexuais, aí incluídos mulheres e homens (David Bowie, entre eles). No momento em que os Rolling Stones comemoram 50 anos anunciando um retorno aos palcos e Mick chega aos 70 com quatro casamentos e sete filhos, não é uma biografia recomendável para novos fãs. Os antigos já sabem o que esperar.
O jornalista Philip Norman é um produto dos anos 1960. Adora rememorar a vida louca da swinging London, as orgias e os banquetes regados a álcool e alucinógenos. Conheceu Jagger numa entrevista, em 1965, dois anos antes de o cantor ser preso por porte de drogas e quatro antes do trágico concerto dos Rolling Stones em Altamont, na Califórnia, quando um jovem negro foi morto a facadas por membros da gangue Hell’s Angels, contratados para a segurança do show americano. Quanto às drogas, há uma novidade: Norman diz que o fornecedor de ácido lisérgico (LSD) aos Stones era um agente do FBI recrutado para um programa de contrainteligência (Cointelpro) que investigava “subversivos” (comunistas, feministas, negros militantes e simpatizantes). Em 1967, o Cointelpro de J. Edgar Hoover mudou o foco para os roqueiros, especialmente os ingleses que, na sua visão, “corrompiam” a juventude americana. Os serviços secretos ingleses teriam auxiliado o FBI na missão.
A operação que levou Mick Jagger e sua namorada Marianne Faithfull presos, em 1967, se deu graças a David Jove, que morreu em 2004, aos 64 anos. Ele usava, então, um sobrenome falso, Snyderman, e tinha também os Beatles na mira. Se condenados, eles não poderiam entrar nos EUA.
Quanto ao trágico episódio de Altamont, é fato que, na época, Jagger foi criticado na mídia como irresponsável por ter organizado o concerto e atribuído aos Hell’s Angels a segurança do show. Durante a apresentação de Under My Thumb, um garoto de apenas 18 anos, Meredith Hunter, foi assassinado em frente do palco. Norman tenta livrar a barra de Jagger, escrevendo que os diabólicos Hell’s Angels foram, na verdade, contratados pelos músicos do grupo Grateful Dead. Em várias outras passagens, o jornalista toma partido do biografado, que, no entanto, não colaborou com o livro. Mesmo Marianne Faithfull, citada a todo momento, é lembrada por meio da autobiografia, Faithfull, e não por longos depoimentos pessoais. E ela teria muito a dizer, especialmente sobre a adesão de Jagger ao satanismo (eles acabaram queimando toda a biblioteca “satânica” do vocalista, mas o biógrafo não revela as circunstâncias). Com informamções do Estadão