Os incidentes na central nuclear japonesa Fukushima Daiichi despertam a lembrança da catástrofe nuclear de Chernobyl, que afetou centenas de milhares de pessoas em vários países, e que completa 25 anos em abril. Por enquanto, as doses de radiação liberadas em Fukushima são relativamente baixas e não devem causar problemas graves, exceto, talvez, aos trabalhadores que atuam no próprio local. Mas os japoneses parecem estar perdendo o controle da situação, o que traz a possibilidade de vazamentos mais intensos.
Em Chernobyl, 135 mil pessoas precisaram ser removidas da região em torno da central nuclear. A localidade de Pripyat, vizinha à usina, continua sendo uma cidade fantasma, com níveis de radiação altos demais para que seja habitada regularmente. Após a explosão do reator de Chernobyl, dezenas de trabalhadores morreram em poucas semanas, como conseqüência da exposição direta à radiação. Mas estima-se que dezenas de milhares de pessoas, que receberam doses menos intensas, contraíram câncer nos anos que se seguiram ao desastre.
Quanta radiação é mortal?
Na maioria dos países, a radiação é medida em sievert (Sv), ou seu submúltiplo, o milisievert (mSv, um milésimo de sievert). Um estudo feito nos Estados Unidos mostra que um americano típico está exposto a 6,2 mSv por ano. Parte disso vem da radiação presente no ambiente e, parte, de exames médicos. Um raio X do tórax, por exemplo, fornece 0,02 mSv. Já uma tomografia do coração pode bombardear a pessoa com 12 mSv. Ainda são níveis razoavelmente seguros para a saúde.
Já uma exposição de 100 mSv ao longo de um ano é considerada perigosa. Uma dose dez vezes maior que essa, de 1 Sv por ano, é capaz de provocar o surgimento de um câncer fatal em 5% das pessoas expostas. Mas pode demorar muitos anos até que a doença se manifeste. Com uma única dose de 250 mSv, muitas pessoas começam a sofrer náuseas, fadiga e diarréia, além de vermelhidão na pele.
Acima de 3 Sv, a vítima pode morrer se não receber tratamento adequado. Já uma exposição de 10 Sv ou mais deixa poucas chances de sobrevivência. O sistema nervoso central é danificado seriamente, e a maioria das vítimas morre em até 60 dias, como ocorreu com os trabalhadores de Chernobyl.
Tratamento
A radiação afeta o equilíbrio químico do corpo, danificando a medula óssea e vários tecidos orgânicos. Quando uma pessoa é contaminada, a primeira providência é evitar que mais radiação entre no corpo, eliminando roupas e calçados e lavando a pele com água e sabonete. Como o sistema imunológico fica comprometido, uma parte do tratamento é o controle de infecções. Além disso, usam-se drogas que estimulam a produção de glóbulos brancos, numa tentativa de compensar os danos à medula óssea.
O iodeto de potássio pode ser empregado para prevenir danos à glândula tireóide. Quando tomado em doses elevadas, ele satura essa glândula com iodo. Isso evita que ela absorva o iodo-131, isótopo radiativo que provoca câncer. Por isso, o governo japonês tem estocado pastilhas de iodeto de potássio, que poderão ser distribuídas à população em caso de necessidade.
Fukushima
Em Fukushima, os japoneses reportaram, ontem, radiação máxima de 400 mSv. As autoridades japonesas já haviam removido 750 funcionários do local na terça-feira. Outros 50 haviam ficado tentando domar os reatores. Mais tarde, até esses 50 remanescentes foram retirados durante algumas horas, quando o nível de radiação atingiu o máximo registrado. Mais tarde, a radiação baixou e eles voltaram.
Mas os especialistas têm apontado que 50 pessoas não são suficientes para cuidar de sete reatores em plena crise. O fato de os japoneses terem removido os demais funcionários poderia ser um indício de que eles estariam desistindo de tentar retomar o controle, algo obviamente preocupante. Vários países, como a França e a Austrália, recomendaram a seus cidadãos que estão no Japão que saiam de lá se puderem. Isso também não é um bom sintoma, é claro.