Educação

Uniderp-Anhanguera lucra bilhões com a 'farra do Fies', e vira alvo de CPI

3 FEV 2017 • POR • 12h06
Complexo Uniderp-Anhanguera, em Campo Grande: 'muito, muito dinheiro', escreve revista Veja - Reprodução

O sonho de se formar médica, para seguir o exemplo da mãe, a cardiologista Rejane Korndorfer, acabou pregando uma peça nos propósitos da filha Heloísa, depois de ter passado no vestibular da Universidade Anhanguera-Uniderp, de Campo Grande, em 2013. Para fazer frente às mensalidades que ultrapassavam R$ 9 mil, a jovem recorreu ao Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), maior programa de incentivo a quem busca acesso ao Ensino Superior, criado em 1999 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Até aí, nada de anormal. Heloísa estava no caminho para ser médica, como a mãe, porém, no segundo ano do curso, começou a receber boletos, estipulando uma ‘cobrança extra’ das mensalidades, mesmo que o Fies assegure 100% da formação acadêmica. “A secretaria da Uniderp dizia que o valor do Fies não cobria a despesa, fiquei arrasada e cheguei a ser impedida de assinar as atas de provas quando me recusei a pagar o boleto extra”, contou a jovem, como estampa reportagem da revista Veja, na edição da semana passada.

Diana e Heloísa, vítimas da 'farra do Fies' em Mato Grosso do Sul (Veja)

No início do ano passado, por exemplo, as mensalidades de Heloísa já atingiam cerca de R$ 11,2 mil na Anhanguera-Uniderp, considerada a terceira mais cara do País. Os ‘boletos extras’ já somam mais de 200 ações na Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, e a liminar suspendendo a cobrança, obtida pelos alunos na Justiça, acabou sendo derrubada por um desembargador do TJMS. A Uniderp alega que os repasses do Fies ficam abaixo do custo semestral do curso.

Dessa forma, como mostra a reportagem de Veja, “enquanto lesam os alunos [como Diana Silva, amiga de Heloísa, que também recebeu um dos 'boletos extras'], as instituições ganham muito, muito dinheiro”, reforçadas pela voracidade do maior grupo de controle do setor, o Kroton, dono da Uniderp, hoje uma potência avaliada em R$ 24 bilhões, e detentor de 120 campus de ensino espalhados por todo o País. A última tacada do Kroton foi a compra do grupo Estácio de Sá, cuja ação aguarda decisão do Cade (o Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

Demonstrativo do Fies 100% e boleto da Uniderp, cobrando 'taxa extra' de estudantes (Veja)

De acordo com a revista, o ministro da Educação, Mendonça Filho, estuda, junto com a AGU (Advocacia Geral da União), a possibilidade de rever os valores pagos em mensalidades superfaturadas pelo grupo, como forma de “sanar o rombo do Fies”. A reportagem de Veja termina dizendo que a ‘farra do Fies’ se tornou um grande negócio para universidades privadas, como a Uniderp, “e uma grande dívida para jovens recém formados”, como escreveu a jornalista Fernanda Allegretti.

CPI do Fies

No Congresso Nacional, tramitam várias proposições em torno da instalação de uma CPI do Fies, com o fim de apurar irregularidades com o dinheiro do programa que atingem principalmente o grupo Kroton. Só um ‘braço’ do empreendimento educacional, a Kroton-Anhanguera, recebeu pagamentos do governo federal, em 2014, em valores superiores a R$ 2 bilhões.