Polícia

Lula está, enfim, preso

7 ABR 2018 • POR • 21h25
Bloqueio de saída de Lula seria estratégia da defesa para protelar rendição do ex-presidente - Reuters

Após mais de 40 horas de impasse, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva anunciou rendição. Em um discurso inflamado em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, o petista disse que o "sonho de consumo" dos que o acusam é vê-lo preso. "E vou atender ao mandado deles", declarou. Só perto das 19 horas (de Brasília), Lula conseguiu deixar a sede do sindicato, passou à pé pelo meio dos manifestantes e entrou em um  carro preto, descaracterizado, da PF (Polícia Federal), para iniciar o cumprimento da pena.

Mantendo a mobilização iniciada quinta-feira (5), quando o juiz Sérgio Moro deu 24 horas de prazo para Lula se entregar, militantes do PT e de outros movimentos de esquerda cercaram o sindicato que servira de berço político para o ex-presidente. O petista só deixou o interior do prédio por volta de 10h45 da manhã, para assistir, do alto de um palanque, a missa em memória da falecida ex-primeira-dama Marisa Letícia, que completaria 68 anos neste sábado (7). De camiseta azul e semblante tranquilo, Lula não falou durante toda a homilia, marcada pelo forte tom político e por gritos de "não se entrega" e "não à rendição".

Mas, enfim, Lula falou. Ao lado da ex-presidente Dilma, dos candidatos ao Planalto Guilherme Boulos (do Psol) e Manuela D'Ávila (PCdoB), e de outras lideranças petistas, o ex-mandatário reafirmou inocência e acusou a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz Moro de "mentirem" sobre a posse de um apartamento triplex no Guarujá que o levará à cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro.

"Nenhum deles tem coragem ou dorme com a consciência tranquila da honestidade e da inocência como eu durmo", declarou Lula. O anúncio da rendição veio na parte final do discurso. "Eles decretaram minha prisão, e deixa eu contar uma coisa para vocês: eu vou atender ao mandado deles, e vou atender porque eu quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles acham que tudo o que acontece neste país acontece por minha causa", disse.

O ex-presidente acrescentou ainda que o Brasil possui "milhões de Lulas para andar por ele". "Não adianta tentar acabar com minhas ideias, elas já estão pairando no ar, e não tem como prendê-las. Não adianta parar meu sonho, porque quando eu parar de sonhar, eu sonharei com a cabeça de vocês", declarou.

Lula também afirmou que não vai "parar" porque ele não é mais um "ser humano". "Eu sou uma ideia, eu sou uma ideia misturada com a ideia de vocês. Vocês não vão mais se chamar Chiquinha, Joãozinho, Zezinho, Albertinho. Todos vocês, daqui para frente, vão virar Lula e andar por este país. Eles têm de saber que a morte de um combatente não para a revolução", salientou, evidenciando o tom messiânico do discurso, como escreveu reportagem do portal Terra.

"Esse pescoço aqui não baixa. Minha mãe já fez um pescoço curto para ele não baixar. Vou provar minha inocência", concluiu. Ao fim do discurso, Lula saiu carregado pelos militantes. A saída dele do sindicato foi dificultada por militantes, que chegaram a derrubar uma grade de proteção, mas o ex-presidente cumprirá pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no "caso triplex", inicialmente na sede da Polícia Federal em Curitiba. (material atualizado às 18h06)