Brasil trabalha para exportar maconha
Por causa de um drama familiar, Norberto Fischer se tornou um dos mais conhecidos defensores do uso medicinal da cannabis. Após testemunhar os efeitos terapêuticos do canabidiol (CBD) — um dos extratos da planta — sobre as crises convulsivas de Anny, a filha mais nova, ele decidiu entrar na Justiça e conquistou em 2014, pela primeira vez no País, o direito de importar legalmente um medicamento derivado da maconha.
Hoje, ele representa a HempMeds, uma fabricante americana que exporta para o Brasil. E diz que a decisão de iniciar a terapia com o canabidiol surgiu depois que a filha nasceu com uma série de características fora do padrão. “Com 40 dias, ela apresentou a primeira crise convulsiva, mas só quando ela tinha 4 anos conseguimos o diagnóstico: CDKL5, uma doença parecida com a Síndrome de Rett, mas tem como característica as crises convulsivas”.
“Na busca por algo que pudesse ajudar, eu e minha esposa, Katiele, soubemos do CBD. Fomos estudar e descobrimos que era derivado da maconha, o que nos causou um grande impacto. Além do preconceito que a gente tinha em relação à planta, era ilegal no Brasil. Mas no desespero de ver a Anny indo embora, resolvemos arriscar. Com nove semanas de uso, a Anny conseguiu ficar pela primeira vez na vida uma semana inteira sem ter convulsões. Então decidimos entrar na Justiça, o que gerou todo esse movimento que a gente vê hoje”, explica.
Com a liberação, pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), dos estudos científicos com a maconha, as pesquisas só vão avançar, acredita o novo empresário do ramo. “Antes, a palavra maconha era muito mal vista, mas o preconceito já diminuiu muito. Aos poucos, as pessoas estão conhecendo, entendendo o potencial da planta para a medicina. No aspecto da importação, era impossível”.
A Anvisa teve que criar um protocolo para autorizar a importação, a Receita Federal também fez mudanças, inclusive com a redução de impostos. A primeira compra oficial do CBD, já autorizada pela Anvisa, demorou 40 dias para chegar no Brasil. A primeira seringa importada, de dez gramas de CBD, custava US$ 500 há 4 anos. Hoje, essa mesma seringa sai por US$ 220 ou US$ 230. Na entrevista que concedeu ao OGlobo, Fischer disse acreditar que o Brasil vai ser o grande exportador de cannabis medicinal em um futuro breve.