Opinião

Vergonha de ser honesto... uma profecia?

14 OUT 2010 • POR Paulo Gomes da Silva • 21h46
Existem algumas coisas que, por mais que a gente busque respostas, é quase que impossível encontra-las; ou porque elas são muito difíceis, ou porque alguém as mantém de forma obscura, procurando dificultar ou até mesmo esconder a verdade.

Como exemplo disso vamos olhar para nossa cidade de Dourados. Há poucos dias, desencadeada uma grande operação pela Polícia Federal, envolvendo o Ministério Público, que despertou na população um sentimento que circula entre a perplexidade e a revolta daqueles que, por toda a vida, tiveram que trabalhar duro, dar o suor, e às vezes até o sangue, para conseguir dar às suas famílias um mínimo de dignidade.

Focados nos ensinamentos de Deus, pais de família fazem todos os sacrifícios possíveis, e até os quase impossíveis, para transmitir aos filhos, netos, e a todos que estão a sua volta, pelo menos noções do que é uma vida honrada, de respeito e, como se fazia nos velhos tempos, transformar a palavra e o compromisso num documento que tem validade maior do que qualquer papel assinado.

Mas o que vimos nos faz vislumbrar um verdadeiro “buraco negro” à nossa frente, nos deixando apreensivos, temerosos, incrédulos.

Pensemos juntos. Se um de nós, simples mortais, nos envolvemos em algum episódio que passa pelo ilícito, certamente seremos crucificados, desmerecidos, humilhados, presos e, quem sabe sacrificados. E, com toda a certeza, homens que criam as leis a as impõem a nós serão os primeiros a cobrar punição justa, até sem medidas, para que o infrator pague por não cumprir o que, segundo as leis criadas por eles, deveria ser feito.

As penas certamente seriam pesadas e teriam que ser cumpridas sem qualquer reclamação, concordam?

Mas ao mesmo tempo questiono. E o que será feito com homens como esses que recentemente foram flagrantemente flagrados (não é redundância, é reafirmação... reforço) se apoderando de dinheiro que deveria estar sendo aplicado em Educação, em Saúde, em Infraestrutura, em Programas Sociais, em Habitação, enfim, naquelas coisas que são direito da população?

Num primeiro momento, com toda a mobilização popular, a impressão que se tem é que “enfim veremos a Justiça sendo aplicada”. Achamos, na nossa doce inocência, que “desta vez a coisa vai”.

Poucos dias depois, me pego abismado ao saber qual a punição daqueles que até a pouco eram considerados os reais vilões. Uma pena inicial de afastamento de seus cargos públicos... eletivos... mas...

Como vou me convencer que as coisas estão tomando o rumo certo quando vejo que, aqueles homens que foram afastados e que são, claramente, usurpadores do bem público, simplesmente ganharam um “direito de tirar férias”?

Como vou me convencer que as decisões que estão sendo tomadas podem ser levadas a sério.

É fácil explicar porque me sinto assim.

Ao serem considerados culpados, todos aqueles que foram afastados de suas funções deveriam, com se faz com o cidadão comum, ter bloqueados seus bens e, antes de tudo, o seu direito de continuar recebendo salários, haja vista terem sido flagrados em atitudes que não condizem com as regras sociais, com as leis. Então, vejo como o primeiro passo suspender esses pagamentos, já que não estarão trabalhando (aliás, algo que não fizeram antes também). Isso é legalizar o “fantasmismo”, pois na verdade foram transformados em “fantasmas oficiais”, como um prêmio por terem sido “mais espertos” que o simples cidadão comum.

Só esperamos que não se aproveitem do momento para transformar em “boi de piranha” quem talvez tenha sido forçado a agir de acordo com as intenções (ou más intenções) de pessoas sem escrúpulos.

Nessa hora lembro do discurso do grande Rui Barbosa, um dos mais íntegros brasileiros. Naquele tempo ele profetizou...

-“ De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. (Senado Federal, RJ. Obras Completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86)

 

Paulo Gomes da Silva (Maninho)

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