Dourados

Carroças mal sinalizadas são problemas para o trânsito de Dourados

29 OUT 2010 • POR Renan Nucci • 11h53
Crianças índigenas viajam sem segurança nas carroças - Carlos Marinho
Projeto criado em 2008 foi deixado de lado pela administração municipal, que modificou o foco de atuação

Má sinalização, condutores imprudentes e péssimas condições das ruas são alguns dos principais problemas encontrados no trânsito de Dourados. Mas outra situação que tem chamado a atenção é que em meio quase 100 mil veículos motorizados da cidade, encontramos centenas de carroças que trafegam diariamente pelas ruas e rodovias da região, sem as mínimas condições de segurança.

Segundo levantamento feito em 2008 pela Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), estima-se que mais de 2.000 carroças circulam pelas ruas da cidade. Deste total, aproximadamente 1.500 são da Reserva Indígena. Na cidade, boa parte dos usuários deste tipo de transporte são verdureiros, transportadores de materiais recicláveis, de fretes e entulhos, que em muitos casos desconhecem as leis de trânsito e os cuidados que se deve ter com os animais.

O professor Oslon Carlos Estigarribia, ex-superintendente de Trânsito, faz parte do Conselho Estadual de Trânsito e explica porque as carroças precisam de uma atenção especial nas ruas. “São veículos lentos e muito difíceis de serem enxergados durante a noite. Além disso, o animal que traciona o veículo é imprevisível, podendo se assustar facilmente e não responder aos comandos do condutor”, explicou.

Divergências

Condutores de veículos motorizados e os carroceiros possuem uma convivência pacífica no trânsito, embora suas opiniões sejam bem diferentes. “É complicado dirigir próxima a carroças, pois na maioria das vezes eles não respeitam a sinalização. O que também complica é que eles não têm como “dar seta” ou sinalizar qual a direção tomarão; nunca me envolvi em acidentes, mas já passei por complicações onde eles trafegavam”, disse o motorista André Bento.

Já o catador de papel, Francisco da Silva, rebate: “Eu sempre respeito as normas e minha carroça é sinalizada. Quando preciso virar, uso as mãos para indicar a direção que vou seguir, e assim não me envolvo em problemas no trânsito”, explicou.

Projeto Abandonado

Em 2008, Oslon era o Superintendente Municipal de Trânsito, quando criou o “Projeto Carroceiro”, em parceria com a Guarda Municipal, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Sest/Senat e Unigran. Na ocasião, o Projeto tinha como objetivos principais:

- Cadastrar e sinalizar as 2100 carroças existentes no município de Dourados. A sinalização será feita com placas refletivas e cada carroceiro receberá uma carteirinha contendo dados pessoais e o número da carroça.

- Oferecer cursos e aulas práticas, que abordem os assuntos de segurança e educação no trânsito.

- Conscientizar os carroceiros quanto ao cumprimento das leis de trânsito, da necessidade de cuidados com os animais e a segurança do próximo.

Já nas primeiras semanas o projeto surtiu efeito positivo e mais de 80% dos veículos foram corretamente sinalizados e seus condutores instruídos. “Dissemos principalmente para os carroceiros não utilizarem vias de grande movimento como as principais avenidas da cidade”, disse Oslon.

Isso reduziu significativamente o número de acidentes, porém com a troca de administração do ano seguinte, o programa foi paralisado.

O atual Superintendente de Trânsito, Osmar Borba, disse que o projeto não foi abandonado mas que o foco foi ampliado. “Antes o foco era somente os carroceiros, porém passamos a ministrar palestras mais abrangentes, principalmente nas aldeias indígenas. Agora os ciclistas e motociclistas também recebem uma atenção especial”, explicou Osmar.

Oslon, por sua vez, lembra que cada veículo possui suas particularidades e que cada condutor necessita de um cuidado diferente. “Não podemos misturar, a carroça é um transporte diferenciado”, concluiu.