Dourados

Tocha tem euforismo, tumulto, disputa de poder e muita gente nas ruas de Dourados

26 JUN 2016 • POR • 23h07
Rocleiton deu um grito de guerra, traduzido 'vitória', ao receber fogo olímpico - Foto: Douranews

A Tocha Olímpica chegou atrasada, mas chegou fazendo barulho. Com mais de uma hora e meia de atraso [o horário previsto para início do revezamento era às 16 horas], o comboio do Comitê Olímpico Brasileiro, seguramente protegido por batedores da PF (Polícia Federal), PRF (Polícia Rodoviária Federal), da PM (Polícia Militar), Guarda Municipal e Agetran, e escoltado pelos carros dos patrocinadores oficiais, a tocha chegou na rotatória da Reserva Indígena às 17h23, onde era aguarda com ansiedade por centenas de indígenas e populares, misturados a alguns manifestantes com cartazes “Temer jamais” e “Estado assassino”, além dos dois condutores oficiais da comunidade: os professores Rocleiton Flores e Edna de Souza.

Até que o fogo olímpico apontasse na última curva antes da rotatória, pela rodovia MS 156, os condutores permaneceram na viatura dos patrocinadores, concedendo entrevistas a emissoras nacionais e regionais e, ao deixar o carro, foram paparicados pelos ‘patrícios’, todos em busca de um flash ou uma seflie para “mandar pros meus amigos”, como disse o estudante da 4ª série Igor Bogarin, de 15 anos, esperando de bicicleta pelo melhor momento de registrar a ocasião. Ainda teve uma manifestante tentando apagar a tocha em poder de Rocleiton, mas o líquido jogado de uma garrafinha de água mineral só molhou a camiseta do rapaz.

Veja momentos de tensão pré-tocha

Manifestantes, ligados aos chamados movimentos sociais de Dourados, entre eles alguns estudantes universitários, todos não índios, aproveitaram a ocasião para estender faixas contra os conflitos recentes entre indígenas e produtores rurais na região de Caarapó, que resultou na morte de um índio dentre os integrantes da aldeia Tey-Ku-ê, que ocuparam a fazenda Yvu. Houve confronto com lideranças indígenas. Celso Mamede, de família tradicional na aldeia Jaguapiru, reagiu com energia: “Não permitimos que venham tentar estragar essa festa bonita que vai começar por aqui”, afirmou. O líder desportisa Kaxé, de 59 anos, disse que “esse é um momento de festa para o esporte e a saúde, contra as drogas e a violência”.

Rocleiton é irmão do professor e diretor da escola indígena Pai Chiquito, que morreu no ano passado, vítima de enfarto quando vinha se destacando entre os membros da delegação do Estado que iria disputar os Jogos Mundiais Indígenas em Tocantins; e Edna é filha do cacique Marçal de Souza, o primeiro e mais destacado líder das comunidades no enfrentamento pela soberania das terras indígenas, morto assassinado na década de 90.

Depois de percorrer parte da rodovia MS 156, a tocha chegou ao Parque dos Ipês, onde foi entregue para a professora Noemi Ferrigolo, da Unigran, primeira a iniciar o percurso na área urbana. Dali em diante, a cada 200 metros o revezamento tinha um entre os 81 condutores selecionados, e sempre bastante gente nas laterais das ruas por onde passou até chegar na praça Antônio João. A tocha permanece na noite deste domingo em Dourados e pela manhã desta segunda (27) segue para São Paulo, via Presidente Prudente.