Em 1997, um cientista e mais quatro ajudantes esquimós desenterraram o corpo de uma jovem da camada de terra congelada no povoado de Brevig, na península Seward, no Alasca. Ela estava lá desde 1918, quando caiu vítima de uma gripe. Com a decisão de examiná-la depois de morta, o cientista esperava que o agente causador da gripe ainda estivesse em seus pulmões e que, por meio de técnicas genéticas avançadas, pudesse ser isolado e identificado.
“Por que esse conhecimento pode ser útil? Para responder, precisamos entender um pouco mais sobre como os vírus funcionam e o que os torna tão perigosos”, já alertava, em uma publicação de dezembro de 2005, a revista Despertai, editada pelas Testemunhas de Jeová e que hoje atinge a distribuição mundial de quase 100 milhões de exemplares.
“Atualmente sabemos que a gripe, ou influenza, é causada por um vírus que pode espalhar-se por meio de secreções respiratórias expelidas por tosse, espirro ou ao conversar e que o vírus está presente no mundo inteiro, até mesmo nos trópicos, onde pode manifestar-se em qualquer época do ano. No Hemisfério Norte, o período de maior ocorrência da gripe é de novembro a março; e no Hemisfério Sul, de abril a setembro”, relembrava a publicação.
O vírus influenza tipo A, o tipo mais perigoso, é pequeno em comparação com outros vírus. Geralmente é esférico, com algumas saliências na superfície. Quando o vírus infecta uma célula humana, se reproduz tão rápido que, em cerca de dez horas, entre 100 mil e 1 milhão de novas “cópias” do vírus rompem a célula e saem.
Segundo muitos especialistas, a questão não é se um vírus violento vai retornar mas sim, quando e como isso vai acontecer. De fato, alguns estimam que um surto relativamente grande de influenza aconteça a cada 11 anos, e um surto severo, a cada 30 anos aproximadamente. De acordo com essas estimativas, o prazo para o surgimento duma nova pandemia já se esgotou.
Observe a publicação destacada aqui em negrito
A revista médica Vaccine noticiou em 2003: “Já se passaram 35 anos desde a última pandemia de influenza, e o período mais longo já registrado com precisão entre duas pandemias é de 39 anos”. O artigo acrescentava, há 14 anos: “O vírus causador da pandemia pode surgir na China ou num país vizinho e incluir antígenos e características de virulência provenientes de vírus que atacam animais”.
A revista previu acerca do vírus: “Ele vai se espalhar rapidamente pelo mundo todo. Acontecerão várias ondas de infecção. A morbidade será abrangente em todas as idades e haverá interrupção de atividades sociais e econômicas em todos os países. A enorme mortalidade será evidente na maioria das faixas etárias, para não dizer em todas. É improvável que os sistemas de saúde consigam lidar adequadamente com a demanda por assistência médica, mesmo nos países mais desenvolvidos em sentido econômico”.
Até que ponto esse quadro é alarmante? John Barry, autor do livro The Great Influenza (A Grande Influenza), fornece a seguinte descrição: “Um terrorista com uma arma nuclear em mãos é o pesadelo de todo líder político; uma nova pandemia de influenza também deveria ser”.
Há tratamentos disponíveis?
Mas, nesse caso, há tratamentos eficazes atualmente?, perguntava a publicação da época. A resposta a essa pergunta traz boas e más notícias. Os antibióticos podem diminuir a mortalidade causada por pneumonias bacterianas secundárias, e certas medicações podem ser eficazes contra alguns tipos de gripe. Há vacinas que podem ser úteis no combate ao vírus da gripe se ele for identificado corretamente e se a vacina for produzida a tempo. Essas são as boas notícias. E, as más?
A história das vacinações contra gripe — desde o controverso e infeliz episódio da gripe suína, em 1976, à falta de vacinas em 2004 — não tem sido muito boa. Embora a medicina tenha avançado muito desde a Primeira Guerra Mundial, os médicos ainda não conhecem nenhuma cura para um vírus poderoso. Assim, surge a inquietante pergunta: O que aconteceu em 1918-19 poderia se repetir? Veja o que o Instituto Nacional de Pesquisas Médicas, de Londres, diz: “Em certos aspectos, as condições do mundo ainda são como eram em 1918: enorme volume de viagens internacionais por causa do desenvolvimento dos meios de transporte; várias zonas de guerra com os inerentes problemas de desnutrição e higiene precária; crescimento da população mundial, que chegou a 6,5 bilhões, com uma proporção maior vivendo em cidades, muitas delas com infra-estrutura decadente para eliminação de lixo”. Por isso, um respeitado especialista americano conclui: “Em termos simples, a cada ano que passa, estamos mais perto da próxima pandemia”.