20 de novembro é o Dia da Consciência Negra, data que visa relembrar as lutas dos movimentos negros pelo fim da opressão provocada pela escravidão, que por mais de 300 anos, capturou pessoas na África, como se fossem animais, para escravizá-las no Brasil, evento denominado por Miguel Barros de Holocausto africano ou dos negros e por Abdias Nascimento de Genocídio do povo negro no Brasil.
Essa data coincide com a morte de Zumbi, importante líder do Quilombo dos Palmares, situado Estado de Alagoas. Serve, a nosso juízo, não para celebrar como muitos afirmam, mas para nos relembrar o sofrimento e as atrocidades como eram tratados os negros trazidos, à força, de sua terra-mãe – África - por atos de violência e negação da condição humana, deixando para trás famílias, bens, sua cultura (tão rica), religiosidade e os símbolos de sua ancestralidade, e aqueles que sobrevivessem a longa e penosa travessia do oceano e que eram poucos, aqui perdiam imediatamente o próprio nome, porque batizado com outro pela Madre Igreja católica, sendo despojados da própria identidade, passando a ser tratados, como diria ARISTOTELES, mais 300 anos antes de Cristo, como “mera ferramenta de trabalho”.
Não podemos jamais esquecer desse holocausto africano; antes, precisamos relembrar, sempre, dessa extrema desumanidade e ferida que maculam até hoje, a consciência e a História brasileira, e rejeitar a falsa ideia de uma democracia racial, como defendeu-se em dado momento, porque ela jamais existiu, pois o racismo enquanto negação do outro pela mera circunstância de não ser branco, que Grada Kilomba denomina “Outricidade” (Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Cotidianos, 2019) significando “a personificação de aspectos expressores do “eu” do “sujeito branco”, ou seja, o negro “se torna representação mental daquilo com o que o sujeito branco não quer se parecer”, se encontra arraigado e estruturalmente fincado nas práticas diárias de uma grande parcela da sociedade brasileira, como lembra o hoje Ministro Silvio de Almeida(Racismo estrutural, 2018) bastando se ver o recente resultado de pesquisas quanto ao número de negros mortos pelos órgãos do próprio Estado, em várias unidades da Federação.
Precisamos sempre repetir, com Ângela Davis, que não basta apenas ser antirracista, é necessário lutar contra o racismo, e hoje é um dia - todos são - de lembrarmos dessa luta contra essa forma de opressão dos negros.
A sociedade, especialmente a sociedade branca, precisa lembrar disso e levar a sério a luta para que todos, brancos e negros, possam conviver em harmonia, com respeito reciproco e sem discriminações, nomeadamente sem a discriminação racial.
À luta!
* É Coordenador do Subcomitê da Equidade e Igualdade do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região; Diretor Executivo da Escola Judicial