Aquela ideia de que devemos derrubar as nossas florestas porque os países do primeitro mundo assim o fizeram, ou que é preciso desmatar para desenvolver, necessita de urgentes reparos. Erros do passado não justificam erros do presente. Aqueles países, de fato, cometeram muitos erros, mas tiveram que aprender com eles. Tanto é que "a área florestal está crescendo desde o século XIX na Escócia, Dinamarca, França, Suíça, Alemanha, Coréia do Sul, Inglaterra e nos Estados Unidos, países que adotaram mecanismos indutores de reflorestamento e regeneração de matas nativas" (Revista Planeta, outubro de 2012).
Reconhecendo o imenso valor das florestas, esses países adotaram o chamado manejo florestal de baixo impacto (sustentável), que faz das florestas uma preciosa fonte de emprego e renda, sem destruí-las, ainda mais sabendo de sua importância na proteção do clima, das bacias hidrográficas, da biodiversidade e da própria vida humana. No Japão, por exemplo, apesar da elevada densidade demográfica, o aumento da cobertura florestal tem sido impressionante. Conforme Morelho (2012), " 69% do território japonês já se encontra reflorestado, graças ao estabelecimento de plantações florestais com biodiversidade." Também na França, segue Morelho, "desde a metade do século XIX a área florestal não sofreu reduções; ao contrário, pois aumentou, e a França é, hoje, auto suficiente em madeira".
Na contramão da história, nos países emergentes, principalmente nos tropicais, as florestas continuam encolhendo, figurando o Brasil entre os que mais desmatam. Para dizer o mínimo, 600 mil hectares vieram abaixo, em 2011, só no arco do desmatamento amazônico e no Pantanal, e, conforme notícia recente da Folha de S. Paulo, "nos últimos três anos, cerca de 27O mil hectares de matas nativas foram desmatadas, cujo índice de desmatamento foi, proporcionalmente, maior que o da Amazônia".
Mas, apesar da perda da biodiversidade e do tremendo passivo ambiental que se vai acumulando em nosso estado e em nosso país, parece-nos que o conceito de desenvolviemento sustentável já começa a dar frutos. Vejamos: para Eduardo Riedel, presidente da Federação da Agricultura de Mato Grosso do Sul (Famasul), "quem desmata não é representado por nós, e tem que ser punido”. Continua Riedel: "Há espaços para o crescimento da produção sem riscos de degradação do meio ambiente, e, estima-se, que, no Mato Grosso do Sul, tem uma área de 9 milhões de hectares degradados, e é com o uso dessas áreas que deve ocorrer a expansão da produção”. (Correio do Estado, 10.10.12). O Brasil já contabiliza 200 milhões de pastagens degradadas.
Para Roberto Barreto, do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), "é possivel dobrar ou triplicar a produção agropecuária brasileira sem derrubar árvores.
Para isso, segundo a Embrapa, seria necessário aumentar a produtividade de áreas já desmatadas". E, para Dirceu Bloch, da Fundação MS, "somente com a integração lavoura-pecuária ter-se-ia a produção de grãos e de carne desejada, sem derrubar uma árvore”. A aplicação de tecnologias, para a recuperação de áreas degradadas, inclusive com linha de crédito subsidiado, já se acham disponíveis, com boas possibilidades de se aumentar a produção sem que sejam necessários novos desmatamentos.
Pensando bem, em terras sul-mato-grossenses, os 9 milhões de hectares degradados, subutilizados, e, inclusive, próximos à malha asfáltica, sinalizam o tamanho da contradição que seria a abertura de novas frentes de desmatamento.
* O autor é mestre em geografia física pela USP e deputado estadual (PT/MS).