A revelação recente da existência de um esquema de pastores dentro do ministério da Educação expõe uma maneira de ser do bolsonarismo. Revela uma relação promíscua entre o governo e algumas igrejas e pastores evangélicos que acontece em várias outras áreas da administração. É preciso lembrar que tivemos outra manifestação desse problema no ministério da Saúde, com a ação de pastores lobistas que influenciavam a compra de vacinas pelo Governo. Parece que estamos diante de um grande escândalo que já tem sido chamado de bolsolão.
O lema do lobista, como já foi gravado no caso do Ministério da Educação é “você me ajuda que eu te ajudo”, ou seja, uma troca de favores às custas de verbas públicas, o que não é novidade no caso brasileiro. O governo ajuda os pastores, os pastores ajudam os prefeitos e estes devolvem votos e barras de ouro, que não se sabe onde irão parar.
Esse sistema é muito parecido com o da relação governo e deputados federais, através das famigeradas emendas parlamentares. Os parlamentares que ajudam o governo nas votações recebem verbas para levar às prefeituras que pretendem cooptar. Essa maneira clientelista de fazer política destrói a eficácia das políticas públicas e forma a base para a corrupção. No atual orçamento esse sistema de privatização do dinheiro público vem acobertado pela absoluta falta de transparência de uma parte substancial que forma o orçamento secreto, onde não se sabe quem fez a emenda e quem é o beneficiado.
Esse sistema de troca de favores têm raízes profundas na sociedade brasileira, vem desde o tempo do coronelismo. O sistema coronelista juntava coerção com cooptação. Era o coronel quem permitia o acesso a certos benefícios sociais. Essa era a sua moeda de troca, por isso era odiado, mas também amado.
O escândalo dos pastores está motivando uma iniciativa de senadores para a criação de uma CPI sobre assunto, mas o governo joga pesado na sua inviabilização conseguindo inclusive que três senadores retirassem as suas assinaturas da petição inicial. Outra frente de resistência do governo é a negativa de transparência na agenda presidencial, com o que se procura esconder o intenso acesso de pastores diretamente ao Presidente. A agenda presidencial passou a ser tratada como assunto de segurança nacional, protegida pelo sigilo.
Naturalmente, nem todas as igrejas evangélicas estão envolvida nessas falcatruas. Trata-se de alguns maus pastores, espertalhões que tentam aproveitar da situação de termos um presidente e um governo com quatro ministros declaradamente evangélicos e um juiz do Supremo Tribunal Federal indicado por ser tremendamente evangélico. Há resistência a esse tipo de prática em amplos setores da igreja, que tem motivado a manifestação de outros pastores denunciando o jogo espúrio, o que deve ser saudado. O eleitorado evangélico também se manifesta criticamente, como mostram as pesquisas. Segundo o Poder Data, 40% dos evangélicos acham o governo Bolsonaro ruim e péssimo.
Se Bolsonaro for reeleito, ele terá o direito de indicar mais três ministros do Supremo e estaríamos caminhando para uma situação de controle da Justiça, semelhante ao da Venezuela de Chaves e Maduro.
Enquanto isso, Deus tudo vê. HEBREUS 4:13
* È Engenheiro Civil, professor aposentado da UFMS e membro do Grupo Conjuntura MS