O MPF (Ministério Público Federal) em Corumbá denunciou 32 pessoas por envolvimento em um grande esquema de importações e exportações ilegais de produtos através da fronteira do Brasil com a Bolívia. O esquema, desvelado na chamada "Operação Vulcano", funcionava nas cidades de Corumbá e Cáceres (no Mato Grosso) e contava com a participação de empresários, despachantes aduaneiros, operadores financeiros e servidores da Receita Federal. O prejuízo aos cofres públicos, em tributos sonegados, ultrapassa R$ 600 milhões, segundo o MPF.
A denúncia, já recebida pela Justiça Federal de Corumbá, teve o sigilo levantado apenas nesta semana. Os réus responderão criminalmente pela prática de descaminho, contrabando, falsidades documentais, corrupção ativa e passiva, facilitação de descaminho e formação de quadrilha.
De acordo com as investigações, os envolvidos realizavam importações e exportações fraudulentas de produtos têxteis, pneus, cervejas, perfumes, aditivos químicos e maquinários diversos, e se organizavam em três grupos distintos: importadores que prestavam declarações falsas aos órgãos de controle, empresários que, por meio de fraudes, simulavam exportações a países vizinhos, e servidores públicos da Receita Federal corrompidos, que recebiam propina em troca de facilitar o funcionamento do esquema.
Importações fraudulentas
O primeiro grupo importava grande quantidade de mercadorias sem pagar corretamente os tributos devidos. Para tanto, emitia declarações falsas sobre a origem, valor ou quantidade dos produtos, de modo a se beneficiar dos incentivos tributários instituídos em acordos comerciais. No Brasil, por exemplo, produtos têxteis oriundos de países sul-americanos têm tributação reduzida. Cientes disto, os denunciados declaravam que roupas compradas na China seriam de origem boliviana, pagando, assim, menos impostos do que deviam.
Além disso, em alguns casos, declaravam que importavam produtos em quantidades menores do que efetivamente traziam ao Brasil, para diminuir a base de cálculo dos tributos e pagar, também por essa via, menos impostos do que o devido. E para não serem descobertos, os membros deste grupo utilizavam empresas "laranjas", para ocultar os nomes dos reais autores das importações, e ainda pagavam, regularmente, propina a servidores públicos com o intuito de evitar que sofressem fiscalização, de acordo com relatório dos procuradores.
Exportações simuladas
Já o segundo grupo, além de também realizar importações fraudulentas de produtos têxteis, ainda simulava exportações de cervejas, com o objetivo de se beneficiar indevidamente de isenção de tributos diversos, segundo o MPF. Pela legislação brasileira, produtos nacionais destinados ao mercado externo não são tributados em IPI, PIS/Cofins e ICMS - uma forma de incentivar a exportação e contribuir para o superávit da balança comercial brasileira. Para se beneficiar dessas isenções, o grupo, por meio de fraudes e do pagamento de propina a servidores públicos corrompidos para não fiscalizarem essas operações, declarava que iria destinar bebidas ao mercado externo, mas, na verdade, as desviava para o mercado interno. As mercadorias, na maioria das vezes, sequer saíam do território nacional e eram comercializadas com preços bem abaixo do que a média da concorrência.