O ex-ministro Alceni Guerra, atualmente com 67 anos, tinha bons motivos para ser amigo do ex-presidente Fernando Collor. No curto Governo dele, ocupou dois Ministérios [da Saúde e da Criança] e admiteque “tinha verdadeira veneração” por Collor. Em entrevista ontem (28) ao G1, Alceni só lamenta não ter conseguido ao menos diminuir a diferença no placar na Câmara dos Deputados que determinou o afastamento do cargo do então presidente, no dia 29 de setembro de 1992.
Foram 441 votos a favor do impeachment e 38 contra. Grato a Collor pela indicação ao governo, Guerra contava com os votos dos dois irmãos, Waldir [hoje, colunista do Douranews] e Ivânio, que eram deputados federais à época, mas o apelo familiar não foi ouvido. “Eu não consegui impedir que eles votassem pelo impeachment, o que me deixou com a amizade [com eles] abalada por alguns meses”, relembra.
Para o ex-ministro, o episódio com os irmãos é exemplo de como uma “oposição minoritária” conseguiu arregimentar a maioria e da “absoluta carência de líderes” para enfrentar a crise ao lado de Collor.
“Acompanhei [a votação do impeachment] pela TV torcendo para que meus irmãos votassem contra porque achava que era uma forma de demonstrar personalidade política. Se você não estava de acordo, devia votar contra, mas eles votaram a favor. Me afastei deles por uns meses porque o Collor tinha me prestigiado muito, né? Foi o primeiro governo em mais de 50 anos que tinha superávits mensais, e os ministros Zélia [Cardoso de Mello, da Fazenda] e Marcílio [Marques Moreira, também da Fazenda] recebiam ordens de repassar as sobras para o Ministério da Saúde. Eu era reconhecido com o apoio que o presidente tinha me dado. Tinha obrigação moral [de apoiar Collor]”, afirmou Alceni Guerra.
No dia seguinte, recebeu um telefonema do presidente. “Ele disse: ‘Alceni, fique tranquilo que eu compreendo seus irmãos’. E me convidou pra tomar um cafezinho com ele quando eu pudesse”, relatou o ex-ministro, que também se viu obrigado a renunciar ao cargo de ministro em janeiro de 1992, envolvido em denúncias de superfaturamento na compra de equipamentos para agentes de saúde. Ele diz que foi alvo da “maior campanha difamatória” da história do país.