A 25 dias da eleição que definirá o novo presidente do Senado, a bancada do PT – que tem 10 integrantes – está rachada por conta de divergências em torno de quem apoiar para a sucessão de Renan Calheiros (PMDB-AL) na votação que ocorrerá em 1º de fevereiro.
A parte moderada da legenda – formada pelos senadores Paulo Rocha (PA), Humberto Costa (PE) e Jorge Viana (AC) – quer apoiar o atual líder do PMDB, senador Eunício Oliveira (CE), na eleição interna. A intenção deles é preservar o comando de comissões importantes do Senado e assentos na Mesa Diretora.
Já a ala mais radical do PT no Senado – representada pelos senadores Lindbergh Farias (RJ) e Gleisi Hoffmann (PR) – defende que a oposição lance candidatura própria para evitar votos em um senador que tenha apoiado o “golpe”, o que esvaziaria o discurso defendido pelo partido durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Eunício foi um dos parlamentares que votaram a favor do afastamento da petista do Palácio do Planalto.
Os moderados da bancada petista falam em "respeito à proporcionalidade da Casa". Consequentemente, o grupo defende que o candidato à presidência do Senado seja indicado pela maior bancada: o PMDB, que tem 19 senadores e deve oficializar a candidatura de Eunício.
A bancada do PT marcou uma reunião para o fim deste mês da qual deve participar, inclusive, o presidente da legenda, Rui Falcão.
Receio de ser escanteado
Em conversas de bastidores, parlamentares petistas que querem apoiar Eunício argumentam que se o PT se opuser ao senador cearense poderá criar um desgaste desnecessário com o PMDB, uma vez que, com o apoio do PSDB, Eunício está próximo de ser o novo presidente do Senado.
Esses petistas também admitem receio de que o partido fique com o poder na Casa ainda mais esvaziado. Para eles, a atitude poderia acarretar o escanteamento do PT das funções decisórias da Casa, como a presidência de comissões e vagas na Mesa Diretora.
Atualmente, a sigla oposicionista acumula o comando das comissões de Assuntos Econômicos – considerada uma das mais importantes do Senado – e a de Direitos Humanos.
A de Assuntos Econômicos, no entanto, deverá ficar com o PSDB em 2017. Os tucanos já escolheram, inclusive, o senador Tasso Jereissati (CE) para assumir a presidência do colegiado.
Os petistas articulam para continuar no comando da Comissão de Direitos Humanos e pretendem assumir a Comissão de Assuntos Sociais.
O PT também está à frente das vice-presidências das comissões de Constituição e Justiça (CCJ) e de Educação, Cultura e Esporte.
Impasse na bancada
Para Paulo Rocha, que defende o apoio a Eunício Oliveira, o PT deverá respeitar a tese da proporcionalidade para definir o posicionamento.
"Majoritariamente, hoje, eu diria que o PT vai defender a ideia de a composição da Mesa ser através da proporcionalidade, na qual o PMDB, que tem a maior bancada, indica o presidente", disse o parlamentar ao G1.
"Pelo o que está posto, nós vamos [...] continuar a posicionar favorável à indicação que vier do PMDB. A não ser que envolva um debate maior nesse processo", acrescentou.
A ala contrária ao apoio a Eunício, por outro lado, quer o lançamento de uma candidatura de oposição. Eles alegam que não é possível votar no líder do PMDB porque ele votou a favor do impeachment de Dilma no ano passado.
Para essa parcela da bancada petista, votar no senador desconstruiria o discurso da oposição de que o processo de impeachment foi um "golpe de Estado" e poderia representar uma aproximação do PT com o partido de Temer.
Por isso, os parlamentares são favoráveis a uma candidatura dos partidos de oposição.
Embora diga que se sentiu "traído" pelo PMDB no episódio do impeachment, Paulo Paim (PT-RS) diz que a bancada petista não está dividida.
"Nos outros anos [de eleição], todos os candidatos do PMDB sempre são [foram] questionados. A única coisa que tem aí [agora] é o impeachment, que significa que o PT se sentiu traído pelo PMDB", disse Paim ao G1.
Petistas que apoiam Eunício lembram, nos bastidores, que o senador se absteve na segunda votação da sessão do impeachment, o que ajudou a manter Dilma elegível. Eles também frisam que o cearense mantém boa relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mesa Diretora
Na atual composição da mesa diretora do Senado, o PT ocupa dois assentos: a primeira-vice-presidência (Jorge Viana-AC) e a quarta-secretaria (Ângela Portela-RR).
O desejo dos petistas é continuar com a vice-presidência da Casa e o partido articula indicação do senador José Pimentel (CE), líder do governo no Congresso Nacional na gestão de Dilma Rousseff.
A vice-presidência, porém, deverá ficar com um senador do PSDB, uma vez o partido tem a segunda maior bancada da Casa: 12 senadores. Diante disso, o PT tem buscado ficar com a primeira-secretaria.
Cabe ao primeiro-secretario autorizar a participação de parlamentares em missões no exterior e gerir – em conjunto com o presidente da Casa – o orçamento do Senado que, em 2017, está previsto em cerca de R$ 5 bilhões.