Empresário condenado como o operador do mensalão, o publicitário Marcos Valério prestou novo depoimento, espontaneamente, ao MPF (Ministério Público Federal) no fim de setembro. Ele agendou audiência com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e fez relatos novos, afirmando que, se for incluído no programa de proteção à testemunha [o que o livraria da cadeia], poderá fornecer mais detalhes das acusações pelas quais foi condenado a mais de 40 anos de prisão.
Dias depois desse novo depoimento, segundo revela o Terra, Valério formalizou o pedido para a inclusão no programa de testemunhas enviando um fax ao STF (Supremo Tribunal Federal). O depoimento, que ainda é mantido sob sigilo, faz menções ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ex-ministro Antonio Palocci e a outras remessas de recursos para o exterior além da julgada pelo Supremo no caso do mensalão. Depois de analisar o caso do dinheiro enviado a Duda Mendonça em Miami, o tribunal acabou absolvendo o publicitário dessa acusação.
Ainda no recente depoimento à Procuradoria, Valério disse já ter sido ameaçado de morte e falou sobre um assunto com o qual parecia não ter intimidade: o assassinato em 2002 do então prefeito de Santo André, Celso Daniel.
A "troca" proposta pelo empresário mineiro, se concretizada, poderá livrá-lo da prisão porque as testemunhas incluídas no programa de proteção acabam mudando de nome e passam a viver em local sigiloso tentando ter uma vida normal. No caso da condenação do mensalão, Valério será punido com regime fechado de detenção. O empresário ainda responde a pelo menos outras dez ações criminais, entre elas a do mensalão mineiro.
Advogado de Palocci diz que é insanidade
A assessoria do Instituto Lula, que representa o ex-presidente, informou que não se pronunciaria sobre o assunto por desconhecer o conteúdo das declarações dadas por Marcos Valério ao Ministério Público Federal. Já o criminalista José Roberto Batochio, que defende o ex-ministro Antonio Palocci, rechaçou com veemência a citação feita por Valério. "É uma insanidade", protestou.
Palocci afirma, segundo esclareceu seu advogado, que "não tratava de base de governo" e que "nunca teve nenhum tipo de contato" com o operador do mensalão. Batochio foi taxativo. Ele disse que Palocci ficou "perplexo com essa informação". "Fazer uma afirmação dessas contra quem nunca teve nenhuma participação de sustentação de base, e é este o caso de Palocci, é insanidade derivante de um estado psicológico diante da situação pessoal que ele (Marcos Valério) vive".
Núcleo financeiro
No relatório da Procuradoria-geral da República sobre o escândalo do mensalão, o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e os sócios dele (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.