A presidenta: Vamos aguardar para ver se a grande imprensa consagrara o uso de presidente ou presidenta, para referir-se à Dilma. As duas formas são corretas. Presidente oferece melhor eufonia, no entanto presidenta está em conformidade com a tendência atual de se nominar por gênero e não por espécie.
O machismo: O machismo no Brasil vai arrefecendo-se. Durante milhares de anos as mulheres sofreram o jugo machista e somente a partir do século 20 é que o movimento feminista ganhou força e tem obtido respostas positivas. No século 21 haveremos de entender que na essência somos todos iguais, diferimos apenas nas aparências.
Velhas lideranças: Com mais de sessenta anos, os principais candidatos forjaram as suas lideranças na resistência à ditadura de 64. Isso, por um lado, deixa-nos tranquilos porque Dilma saberá valorizar a democracia, por outro lado a ausência de candidatos mais jovens é prova de que a ditadura castrou a formação de novas lideranças.
Segundo turno: O segundo turno nas eleições foi um avanço grandioso na democracia Lamentável que não aconteça também em cidades, com menos de 200 mil habitantes como Dourados. Houvesse segundo turno por essas bandas é bem provável que os nossos aborrecimentos teriam sido menores.
Urnas eletrônicas: nós, brasileiros, temos a estranha mania de não elogiarmos o que temos, mas qual o país do mundo que tem um sistema eleitoral tão bom e tão rápido quanto o nosso?
Avanço democrático: passados 25 anos após o fim da ditadura militar, mostramos que a democracia está consolidada. De parabéns o nosso povo e o presidente Lula que resistiu às tentadoras propostas de um terceiro mandato.
O aborto: Não obstante todo o avanço democrático verificado no Brasil, a campanha deixou a desejar. Algumas entidades desviaram o foco dos programas dos candidatos para uma campanha contra o aborto. Nenhum problema quando entidades se posicionam favoráveis ou contrárias a determinados temas. Num ambiente democrático todos têm o direito de expressão, a grande infâmia foi ligar o tema especificamente à Dilma.
Dilma pós-eleição: O discurso da presidente eleita, logo após a apuração, foi uma verdadeira carta-compromisso com a nação: estendeu as mãos para os adversários e comprometeu-se a governar para todos. Assim deveria ser assim foi.
O que se pode esperar de Dilma: Em primeiro lugar a continuidade dos projetos do governo Lula, com reflexos nos programas sociais, no fortalecimento do mercado interno, incremento de infra-estrutura e uma política externa independente.
Bolsa família: O programa “bolsa família” deverá ser ampliado, tirando milhares das famílias que ainda não foram beneficiadas pelo programa, da situação de miserabilidade e possibilitando-lhes o ingresso no mercado de trabalho. A “bolsa família”, além de favorecer diretamente os beneficiados, atinge também a produção e o comércio.
Mercado interno: Independentemente de conseguir ou não reverter a tendência de queda do dólar, o fortalecimento do mercado interno deverá ser um dos alvos principais da próxima presidente. Se o dólar cair ainda mais, a balança comercial brasileira tenderá a ser deficitária, em prejuízo às exportações, especialmente de produtos primários, como minérios e grãos. Com déficit na balança comercial as reservas caem e crescem as possibilidades de crises financeiras. Embora não haja perigo iminente, fortalecer o mercado interno é prevenir danos à economia.
Educação e Saúde Pública: Implantar tempo integral no ensino fundamental e médio, e continuar a expansão do ensino público universitário é o grande desafio na Educação. No que diz respeito à Saúde Pública não basta apenas ampliar a rede básica de atendimento e as vagas hospitalares, o desafio maior será intensificar medidas para evitar a contração de doenças.
Política exterior: Uma das obras menos visível, mas muito importante do governo Lula foi o estabelecimento de uma política exterior independente. A ampliação de nossos mercados com o Oriente e com a África trouxe-nos resultados surpreendentes na balança comercial. Por outro lado, as ações na América Latina, especialmente as relações com os nossos visinhos menos desenvolvidos economicamente, trouxeram estabilidade para a região. Sem contar que toda essa ampliação de fronteiras econômicas não trouxe prejuízo em relação aos nossos tradicionais aliados, os Estados Unidos e a Europa. Consolidar essa política é uma das prioridades de Dilma.
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* Membro da Academia Douradense de Letras; aposentou-se como professor titular pelo CEUD/UFMS, onde, além do magistério e desenvolvimento de projetos de pesquisas, ocupou cargos de chefia e direção.