Um homem fazia sua plantação em pleno deserto quando passa pelo local uma caravana árabe. O xeique, comandante da caravana, não resistiu à curiosidade em saber o que plantava aquele homem e ficou muito surpreso ao ouvir dele a resposta: plantava espinhos.
Ora, já seria maluquice plantar qualquer coisa no deserto, imagine espinhos? Então o xeique, mesmo já estando pensando que se tratava de um louco, quis saber como aquele homem comercializaria os espinhos de sua plantação.
- Não colherei espinhos, disse o estranho agricultor. Planto-os porque por aqui de vez em quando passa uma caravana e pode acontecer de nessa caravana ter um camelo tonto, e esse camelo poderá cair perto dos espinheiros, e pode ser que o fardo de algodão que esse camelo carrega se rompa e que o vento leve o algodão para o espinheiro que o reterá. Então catarei o algodão e o venderei.
Os caravaneiros seguiram viagem rindo, mas ao mesmo tempo intrigados com aquela cena. Tão intrigados estavam que dias depois, o xeique em audiência com o Califa – Harun Al Rachid, se a memória não me falha - não resistiu em contar-lhe aquele inusitado encontro com o plantador de espinhos. O Califa também ficou curioso com aquela história e mandou imediatamente buscar o excêntrico homem para entrevista-lo. Desejava saber se era um louco qualquer ou se aquilo representava alguma experiência nova.
Tão logo chegou, o plantador de espinhos foi conduzido ao palácio e expôs ao califa a sua atitude dizendo-lhe que era um homem muito inconstante, que tudo o que iniciava na vida logo largava, que nada dava certo para ele e que então se propusera a essa difícil, quase impossível tarefa. Isso era para ele uma (re)educação, portanto levaria a cabo esse projeto para o seu próprio bem.
Harun Al Rachid, que enfrentava sérios problemas com obras inacabadas, viu nesse homem persistente a pessoa indicada para ser o prefeito de Bagdá. Então, logo o nomeou e, de fato, acertou em cheio, pois durante todo o tempo em que o plantador de espinhos esteve à frente da prefeitura de Bagdá, todas as obras eram em primeiro lugar muito bem planejadas para depois serem iniciadas e nunca ocorreu que uma delas fosse abandonada sem conclusão.
Não é uma bonita e muito oportuna fábula?
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* Membro da Academia Douradense de Letras; aposentou-se como professor titular pelo CEUD/UFMS, onde, além do magistério e desenvolvimento de projetos de pesquisas, ocupou cargos de chefia e direção.