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Opinião

OPINIÃO: Derrota na capital, uma lição para o governador

29 outubro 2012 - 12h37Por Ribeiro Arce

A derrota do candidato Edson Giroto à prefeitura de Campo Grande deve ser creditada, especialmente, ao PMDB e ao governador André Puccinelli. Muitas lições podem ser tiradas desse pleito que se encerrou com o segundo turno das eleições. Ganhar no “grito”, com arrogância e truculência, impondo sua vontade, como acontecia na República Velha, onde os “coronéis” dominavam o poder político pelo voto de cabresto, está em extinção, dando seus últimos suspiros. Ótimo para a cidadania!

Outra leitura importante para se fazer é a questão da aliança política. Em Campo Grande o PMDB e o governador Puccinelli pensavam, ou pelo menos deram a entender que dominavam o PSDB. Os tucanos foram aliados importantes, ocupando a vice prefeitura, inclusive quando o André foi prefeito, elegeram a senadora Marisa Serrano e o deputado federal Valdir Neves. O governador alijou essas lideranças, azeitando cargos vitalícios a elas como conselheiras do Tribunal de Contas do Estado e, ainda tirou a vice prefeitura do PSDB, impondo chapa pura do PMDB.

O suplente de Marisa que ocupou o lugar dela no Senado, Antônio Russo, um político sem expressão, nem se viu falar dele nessa campanha. Aliás, o que mesmo esse cidadão faz no Senado da República? Logo, verifica-se que foi uma engenharia política sem resultados práticos eleitorais para o partido do governador. Na realidade o tiro acabou saindo pela culatra, haja vista que o mesmo PSDB ajudou a derrotar o candidato do André nessas eleições na Capital. Primeiro porque foi bem votado no primeiro turno, quase derrotando o Giroto, depois porque no segundo turno apoiou o Alcides Bernal, vitorioso nas urnas e que impôs a maior derrota política ao governador André e seu grupo no Estado e, por fim, ainda se credenciou para disputar o Senado em 2014, vaga sonhada por Puccinelli. Isso demonstra que nem sempre se tem o controle sobre partidos políticos.

Deve-se também analisar até onde a vontade do cacique eleitoral prevalece sobre a vontade do eleitor. Achar que quem for indicado pelo “chefe” será aceito com tranquilidade pela população, porque deu certo no passado, nem sempre se torna realidade. Ficou provado nessas eleições, especialmente, em Campo Grande. O eleitorado campograndense deu ar da sua graça que não queria o candidato do governador desde o inicio do pleito eleitoral. Deu no que deu. A vontade do cacique nem sempre é a do povão.

Ficou também a lição que a prática da truculência e do autoritarismo, o famigerado mandonismo nem sempre funcionam. Vota aqui, vota acolá, o fulano e sicrano serão eleitos, o estilo arcaico do “manda quem pode, obedece quem tem juízo” não deu certo em Campo Grande. Já passou da hora dos políticos que ainda pensam assim, mudarem suas ideias e comportamentos. Em pleno século XXI é praticamente impossível o “mandão do pedaço” reunir grupos significativos de eleitores e definir o voto deles sem que a sociedade fique sabendo. Bater contra os avanços tecnológicos da informação (internet) é dar um tiro no próprio pé.

Outro fator importante para se analisar é o papel da mídia no processo eleitoral. Ainda há espaço para imprensa marrom, muitas vezes sustentada com dinheiro público para difamar desafetos e puxar o saco de políticos provisoriamente no poder? A eleição de Campo Grande mostrou que não. Credibilidade se constrói com seriedade e a informação tem que chegar até o cidadão com a versão de todos os envolvidos no fato. O espaço está livre para a imprensa investigativa e independente de amarras eleitoreiras.

Por fim, fica a lição da importância do respeito para com o cidadão. Aqui vou tratar do cidadão servidor público, as pessoas que tocam o dia a dia do estado. Esses milhares de cidadãos, entre médicos, professores, policiais, administrativos e tantos outros foram tratados, em muitas situações, como preguiçosos, reclamões, irresponsáveis e até inúteis pelo governante de plantão. O administrador é provisório, nós ficamos trabalhando em nossas funções, zelando por vidas, pelo desenvolvimento sustentável, pela educação e pela segurança do estado e do seu povo. Aos servidores públicos de MS, faço algumas indagações: não seria esse o momento adequado para refletirmos com serenidade sobre o nosso papel na vida política do estado? Do que queremos para o futuro político de MS? Os servidores públicos, mesmo muitas vezes coagidos, também ajudaram a construir a vitória esmagadora do Alcides Bernal, acabando com o reinado de vários anos de André Puccinelli e do PMDB na Capital.

* O autor professor da rede estadual de ensino. E-mail: [email protected]