Dentre os profissionais que tem a VOZ como instrumento de trabalho, a categoria docente é a que mais apresentam prevalência de distúrbios vocais, as chamadas DISFONIAS, e outros problemas de saúde enfrentados pelo professor, em função do exercício da profissão. Além dos aspectos sociais e daqueles associados relacionados ao uso da voz, o trabalho docente expõe o professor a outros agentes agressores, como salas de aula com excesso de alunos, escolas próximas às ruas movimentadas obrigando o professor a competir com variados tipos de ruídos, que também provém do corredor, do pátio; sendo um agravante a localização na região central, salas com péssima acústica, pó de giz, poeira, podendo influenciar negativamente em seu ambiente de trabalho, sobretudo, obrigando o professor a fazer o uso da voz de forma abusiva. Este importante instrumento de trabalho, além de ser o veiculo de transmissão de idéias, conhecimentos e informações, também deve despertar confiança, sobriedade, autoridade e segurança, os quais irão influenciar diretamente no processo ensino-aprendizagem.
Mesmo sendo a VOZ, reconhecida como o principal Instrumento de Trabalho e, que o educador é o profissional que mais sofre com os problemas de voz, há ainda ausência de programas, projetos, que vise orientar e preparar melhor o professor, quanto ao uso adequado da voz. Em decorrência desta falta de orientação e preparo, aumenta ano a ano a incidência destes profissionais com problemas de voz. E também é grande o numero de pedidos de licença, afastamentos, readaptações de cargos e funções, ocasionando grande prejuízo ao município, ao estado e também prejudicando o aprendizado do aluno.
As disfunções vocais requerem ajuda especializada, se você sente falta de vontade de falar, sintomas como rouquidão, dores e ardor na “garganta”, é uma clara sinalização que algo não vai bem com o aparelho fonador. A este quadro podem se aliar a tensão nos ombros e no pescoço, além de secreção, cansaço. A persistência destes sintomas por mais de quinze dias, ou sua manifestação com regularidade ensejam a procura de um especialista, pois o problema pode ser mais grave do que uma simples irritação ou inflamação.
Nos últimos anos foram realizadas várias pesquisas a respeito da voz do professor, com o intuito de verificar a qualidade vocal destes profissionais, abaixo transcrevemos alguns destes resultados estatísticos para uma breve comparação e, também para uma reflexão.
Araraquara (SP): 50,6% de 83 professores apresentam vozes alteradas de acordo com DRAGONE (1993).
São Bernardo do Campo (SP): 59,9% de 44 professores foram considerados disfônicos em estudo conduzido por NAGANO E BEHLAU (1993).
Botucatu (SP): 35% de 80 professores apresentaram vozes alteradas e 75,5% tensão em região de pescoço (TENOR, 1997).
Rio de Janeiro (UFRJ): 74,62% de 130 professores relataram alteração vocal (GARCIA, 1997).
Curitiba (PUC-PR): 95; 13% de um universo de 164 professores nunca tiveram treinamento vocal; 81,71% não utilizam nenhuma técnica para melhorar sua voz e dicção e 71,95% dos professores estão preocupados em fazer cursos de aperfeiçoamento e técnicas vocais segundo (PLETSCH (1997)).
Na cidade de Dourados dados levantados durante a realização de cursos do Programa de Saúde Vocal “Viva Voz”, revelaram que 95% dos professores, de um total de 284, apresentaram pelo menos alguns sintomas, tais como: rouquidão, ardência, cansaço, sequidão, sensação de corpo estranho, falhas na voz, sendo que uma grande maioria, 72% foram considerados disfônicos. (Baena, 2000).
Tais pesquisas ou levantamento de dados revelam índices elevados de problemas vocais, pois a maioria dos professores desconhece o funcionamento do aparelho fonatório, as noções sobre saúde vocal, os cuidados gerais e básicos sobre como prevenir problemas de voz e quais as técnicas vocais que poderiam contribuir para um melhor desempenho vocal.
Procurar ajuda é muito importante
A demanda vocal excessiva, associada às condições ambientais, físicas e emocionais inadequadas, pode prejudicar o desempenho ocupacional deste importante profissional.
O professor que apresentar os sintomas, tais como: ardência, queimação na “garganta” cansaço ao falar, falhas na voz, rouquidão persistente entre outros, deverá procurar o fonoaudiólogo ou o otorrinolaringologista, que são os profissionais mais indicados para avaliar, orientar e tratar os problemas vocais.
Tratar a voz é tratar o indivíduo, conhecer sua própria voz é conhecer a si próprio.
(Fonte Jornal Sinpropar)
Ademir G. Baena é Fonoaudiólogo, Especialista em Voz - CRFa. 0176/MS e-mail- [email protected]