Menu
Buscarsegunda, 17 de junho de 2024
(67) 99913-8196
Dourados
32°C
CLÓVIS DE OLIVEIRA

O Quintal de Jandira

26 maio 2024 - 10h41Por Clóvis de Oliveira

A Vila Cachoeirinha, criada através da lei municipal número 1741, de 22 de outubro de 1991, pelo então prefeito Braz Melo (PMDB), não surgiu por acaso. Um ano antes, moradores da região já se mobilizavam, reivindicando mais espaço para moradias. Houve até quem, inclusive de uns que hoje defendem que todo pobre deve ter, pelo menos, o direito de um pedacinho de terra pra construir a sua casinha, que foi contra a implantação do novo loteamento social.

33 anos depois, a Cachoeirinha, ou o ‘Cachu’, como alguns, muitas vezes em tom pejorativo, alcunhavam o bairro, a vila se transformou em um bairro de respeito, com gente de respeito e respeitada... pioneiros que atravessaram pinguelas pra chegar na porta da casa, sobre o esgoto a céu aberto, que tiveram que recolher móveis e roupas sobre os ombros quando o fedido córrego Rego D’Água resolvia se manifestar, revolvendo animais e entulhos água abaixo. 

(E dê-lhe pau no Braz Melo, o homem que fez sete CEUs [as modernas e ainda firmes unidades de ensino que transformaram tantas regiões da cidade] e um inferninho... lógico quando se referiam à vila Cachoeirinha)

Recortes de uma história de amor

Pois bem, que fique registrado, foi nessa dicotomia céu-inferno que uma família se estabeleceu ali, inaugurando o Cachu. O casal Jairo e Jandira buscava uma morada, a vila estava se abrindo, pra lá eles foram. Esgoto a céu aberto? Só um detalhe! Ali nasceram Cristiano e Felipe, ali a Jandira plantou seu modesto jardim, o pé de acerola... o limoeiro do vizinho resolveu se infiltrar e o próprio se aproximar.

Mas, a miudinha Jandira resistiu. Mesmo aos com quem não compartilhava do mesmo pensamento, sempre tinha o surrado bulezinho e lustrosas xicarazinhas de café sofre o modesto fogão de cozinha. Acanhada como ela só, se fechava a cada percalço, mas as portas se abriram, generosa e amorosamente, quando os irmãos Judit, Oswaldo e Anízio sentiram o chão faltar. Do mesmo jeito que acalentou a mãe Maria no fim dos anos 70, a miudinha voltava a crescer.

Abatida na madrugada de 24 de maio deste 2024, por insignificantes pedrinhas que resolveram disparar o sinal de alerta das incômodas dores estomacais com quem convivera silenciosamente, deixa história linda de humildade, dedicação e zelo, sobretudo ao quintal de amor que conseguiu perpetuar no coração da Vila Cachoeirinha.