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Homem encontrado morto pesquisava rota do crime na fronteira

Gabriel Yuji morreu com um tiro na cabeça no parque do lago

23 abril 2024 - 14h41Por Redação Douranews

O estudante de Doutorado do Programa de Pós-Graduação da UFGD, Gabriel Yuji Kuwamoto Silva, de 27 anos, encontrado morto com um tiro na cabeça na manhã desta terça-feira (23) no Parque Antenor Martins, no Jardim Flórida, região oeste de Dourados, havia concluído em 2020 uma tese de Mestrado com o tema “As mortes na Fronteira e as Fronteiras da Morte: Homicídios e drogas na fronteira Brasil-Paraguai”.

Na dissertação, ele abordou a queda-de-braço travada entre membros dos grupos organizados do crime pelo controle do tráfico na Linha Internacional entre os dois países.

O corpo de Gabriel foi encontrado ao largo de uma pista de caminhada que corta o parque, ao lado da rua Antônio Emílio de Figueiredo, por onde ele teve acesso ao espaço. Do outro lado, guardas municipais, baseados no posto instalado na entrada do parque, não perceberam nenhuma movimentação suspeita até serem acionados por caminhantes que se utilizam da pista quando o dia amanhece.

A Polícia Investigativa da Polícia Civil de Dourados assumiu os trabalhos e agora trabalha para periciar a arma encontrada ao lado do corpo do homem e o carro, um Renault Sandero prata, que seria de Gabriel, e que foi encontrado estacionado na rua lateral do parque, próximo de onde foi localizado o corpo.

Trabalho de Mestrado

No trabalho de Mestrado realizado para o Programa da UFGD, o doutorando Gabriel Yuji procurava analisar a relação de 201 mortes ocorridas no período de 2015 a 2019 envolvendo as cidades-gêmeas do Mato Grosso do Sul que fazem fronteira exclusivamente com o Paraguai (Bela Vista e Bella Vista Norte; Coronel Sapucaia e Capitán Bado; Mundo Novo e Salto del Guairá; Paranhos e Ypejhú; Ponta Porã e Pedro Juan Caballero; e Porto Murtinho e Capitán Carmelo Peralta) em torno da rede do tráfico e/ou do contrabando de drogas.

“Diante da ausência de estatísticas oficiais específicas sobre esse assunto, criamos um banco de dados próprios a partir de 1192 notícias coletadas, principalmente, de jornais sul-mato-grossenses, mas também de paraguaios e de outras regiões do Brasil, a partir do qual averiguamos 201 mortes no período”, descreveu o aluno do curso de especialização da UFGD.

Ele começa o trabalho discutindo a figura de Fahd Jamil Georges, procurado internacionalmente pela agência de repressão às drogas do Estados Unidos e descrito em 1981 pelo SNI (o Serviço Nacional de Informações brasileiro) como “um dos maiores contrabandistas da área” e conhecido como “El Padrino” e “Rey de la Frontera”. A apuração passa por João Morel, cuja família era acusada de controlar a distribuição de maconha e cocaína na região de fronteira entre Capitán Bado, no Paraguai, e Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul.

Acolhido pela família Morel, o homem que viria a liderar o Comando Vermelho (CV), Fernandinho Beira-Mar, migrou para o Paraguai dois anos antes de alguns dos fundadores do grupo paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) ficarem presos em Campo Grande e passarem por unidades prisionais do Mato Grosso do Sul entre 1999 e 2002, período em que Marcos Camacho, o “Marcola”, apontado como líder do PCC, também usou o país guarani como refúgio por alguns meses até ser preso pela Polícia Civil de São Paulo.

No final dos anos 1990 e começo dos anos 2000, o Mato Grosso do Sul já era um dos estados, ao lado do Paraná, em que a organização paulista tinha uma “presença significativa”, depois de Beira-Mar exterminar os ex-amigos Morel. 

Uma reportagem da revista IstoÉ de 2001 apontava como “concorrentes” ao posto de ‘novo rei do Paraguai’, “além da família Morel, os traficantes Erineu Domingo Soligo, o Pingo, José Elias do Amaral, o Bagual, ex-distribuidor de Beira-Mar, e Jorge Rafaat Toumani, já conhecido do cartel colombiano”, morto em junho de 2016 numa operação que viria a ‘cristianizar’ como novo “rei da fronteira” o preso Jarvis Chimenes Pavão, que teria ordenado o ataque cinematográfico de dentro da cadeia, abrindo os caminhos para a supremacia do PCC na fronteira.

Acompanhe o trabalho de dissertação do doutorando Gabriel Yuji Kuwamoto Silva

Gabriel Yuji Kuwamoto Silva
Mestre em Sociologia, com área de concentração em Sociologia da Violência, pela Universidade Federal da Grande Dourados (2020). Possui graduação em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Federal da Grande Dourados (2018). Atuou como professor contratado da Secretaria do Estado de Educação de Mato Grosso do Sul (Escola Estadual Antônia da Silveira Capilé) na área de Projeto de Vida.

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