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Entre vórtices, ciclones e cavados

28 fevereiro 2021 - 13h46Por FAUSTO MATO GROSSO

A política é como uma nuvem, ensinava Tancredo Neves. Em política também existem ventos em altitude, sistemas de alta e baixa pressão, vórtices, ciclones e cavados. Sem programa de governo, com governabilidade instável e com precária capacidade de gestão, o governo Bolsonaro é pródigo em produzir surpresas e instabilidades.

O capitão saiu das eleições municipais de 2020 como um grande derrotado. Embora tenha adotado a tática de fingir-se de morto, os candidatos por ele apoiados foram fragorosamente derrotados. Eram 13 e apenas dois se elegeram. Entre os derrotados Crivella no Rio de Janeiro e Russomano em São Paulo, bem representativos do obscurantismo bolsonarista. Os únicos eleitos foram os prefeitos em Parnaíba no Piauí e Ipatinga em Minas Gerais.

As eleições municipais formam a base para as disputas nacionais, portanto é importante levá-las em conta. O partido que ainda mais elege prefeitos é o MDB que, de qualquer forma, pouco tem contado na política nacional. No Centrão cresceram PP e PSD. Enquanto o PSDB teve grande derrota, o DEM, de Rodrigo Maia, foi vitorioso com grande salto no número de prefeitos. A esquerda e a cento-esquerda saíram também derrotadas, apenas o Cidadania aumentou o número de seus prefeitos.

As eleições dos presidentes da Câmara Federal e do Senado também afetaram profundamente o rumo da política, um verdadeiro ciclone. Bolsonaro que já perdera os olavistas e lavajatistas, enfim se entregou ao Centrão, que prometera destruir. Com isso ganhou temporariamente uma blindagem no Congresso contra o impeachment e impôs derrotas a dois prováveis antagonistas, o DEM de Rodrigo Maia e ao PSDB de Dória, rachando-os de forma humilhante. Como disse o senador Tasso Jereissati, “os partidos foram triturados no Congresso”.

Para quem tinha dúvida, o livro-entrevista do General Villas Boas revelou que os militares de alto escalão das Forças Armadas também estão ativos no jogo político e conspiram nos bastidores. Ao mesmo tempo Bolsonaro amplia a posse de armas e trabalha no sentido de transformar as polícias militares em milícias bolsonaristas; planta ventos parecendo querer navegar em tempestades, pescador de águas turvas que é. Isso demonstra como é frágil e instável a democracia brasileira e que as possibilidades de retrocessos autoritários ainda estão presentes na vida nacional. Um raio em céu azul é sempre uma possibilidade.

É com esse alto grau de indefinição política que caminha o processo eleitoral de 2022. Articulam também no Congresso mudanças na legislação partidária e eleitoral. É o caso do fim das cláusulas de barreira e a criação da federação de partidos, para atender demandas das pequenas legendas. Também cogita-se a aprovação do distritão, sistema regionalizado de voto em grandes distritos eleitorais, que valoriza o voto em chefes políticos regionais.

Enquanto isso Bolsonaro vai se movimentando tentando ajustar seu discurso para passar a impressão de que a estratégia continua sendo de política econômica liberal, representada por Paulo Guedes; mas, no caso da Petrobrás deu uma guinada populista e estatizante para agradar a sua base eleitoral e consolidar o poder dos generais do Palácio do Planalto.

Nesse clima instável, o Presidente vai vagando com iniciativas populistas, armamentistas e negacionistas para atender suas bases, ao mesmo tempo em que faz chantagem à educação e à saúde, para viabilizar recursos para o auxilio emergencial tão necessário.

Apesar disso, com as pesquisas indicando sua aprovação no patamar de 30%, para a maioria dos analistas, Bolsonaro deverá estar no segundo turno nas eleições presidenciais. Falta saber quem estará com ele, quem vai encará-lo. Já estão na disputa Dória, Hadad, Ciro Gomes, Huck, Boulos e ainda correm por fora, Moro, Mandetta e o governador gaúcho Eduardo Leite. Muitos outras candidaturas ainda poderão aparecer. Não se sabe qual delas prosperará, qual terá capacidade de aglutinar uma frente ampla contra Bolsonaro, única condição de derrotá-lo.

Candidatos não faltam, mas há que se avançar numa boa articulação democrática e num programa mínimo com para tirar o país do buraco em que se encontra.

* É Engenheiros e professor da UFMS

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