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Opinião

ARTIGO - Caçando onça a unha e pescando garoupa a nado

13 setembro 2010 - 17h31Por Ribeiro Arce

A política sul-mato-grossense foi sensivelmente abalada nesse princípio de setembro, período que antecede o pleito eleitoral de 3 de outubro. O furacão partiu de Dourados, segunda maior cidade do estado, e foi sentido e visto por todo o país, tamanho sua intensidade. A catástrofe, batizada de Uragano pela Polícia Federal, provocou estragos incalculáveis na carreira política de muitos “figurões”, até então, tidos como ilibados, honestos, “ficha limpa” e acima de qualquer suspeita. Muitos deles carregavam
costumeiramente a Bíblia Sagrada debaixo dos braços, tamanha a fé em Jesus Cristo e a vontade de ajudar os fiéis necessitados do conforto espiritual. A primeira vista, pareciam todos “gente boa”, mesmo tendo alguns deles, em período recente, envolvidos com maracutaia feia e escabrosa.

Desde aquele furacão, Dourados não é mais a mesma. A incerteza, num primeiro momento, se espalhou por toda a cidade. A indignação tomou conta dos corações e mentes numa rapidez, jamais vista. A sede de justiça veio em seguida como um rastilho de pólvora incontrolável. A multidão, até então, ordeira e pacífica, ficou enfurecida, lotou a Câmara de Vereadores, dando mostras de que não aceita mais ser governada por patifes, desonestos e ladrões.

Com a cúpula da prefeitura e da câmara municipal presa, um juiz assumiu o poder executivo e tenta com um esforço hercúleo colocar de novo aquela casa em ordem. A população dá mostras que acredita nele e na equipe montada, apesar de ainda fazer parte do governo, muitas pessoas com cargos comissionados que, direta ou indiretamente, contribuíram para a cidade chegar a esse caos. A dificuldade maior parece que está no legislativo. Dos doze vereadores, onze foram indiciados pela PF e até agora
nenhum deles se dignou e renunciou o mandato.

A Câmara está mesmo numa “sinuca de bico”, a primeira sessão após o furacão “Uragano” foi um fiasco total para os vereadores. Um dos indiciados, o Aurélio Bonato, que dias antes havia deixado a prisão, não conseguiu presidir a sessão e teve que sair às pressas do plenário, após levar uma sapatada na cara de um cidadão indignado. Parece que os indiciados apostam que a situação volte ao normal em breve, afasta do cargo por um período, o suplente assume e quando a poeira do furacão baixar retoma o mandato. Pelo que se viu na Câmara, na sessão da sapatada na cara, essa não é a vontade do povo. A
população clama pela renúncia já.

Outra coisa que causa estranheza é a lentidão dos partidos políticos que abrigam os indiciados. As decisões até agora foram pífias. Uma expulsão, a do chefão do bando que, segundo a imprensa, soube que tinha sido expulso do PDT, em uma das celas do 3º DP, em Campo Grande, onde se encontra recolhido desde a noite do dia 1º de setembro último. Os partidos políticos que abrigam em seus quadros “autoridades” indiciadas por corrupção, como é o caso de Dourados, estão perdendo uma grande
oportunidade de fazer uma faxina geral, expulsando os envolvidos e, no caso da câmara, exigindo o mandato do malfeitor.

Esse furacão, pelo menos, deixou uma grande lição para a população, e num período propício de eleição. Fica claro que não é nenhum pouco prudente embarcar na falácia de candidato. Não compensa nenhum pouco votar em candidato sem projeto, que vende ilusão para os desinformados, como fez a dupla Ari Artuzi/Carlinhos Cantor que enganou mais de quarenta e cinco mil eleitores nas eleições de 2008 para prefeito e vice. O povo confiou e elegeu esse grupo voraz, composto de pessoas inescrupulosas que não medem esforços na caça de maços de “onças” e “garoupas” os bichos mais valiosas da Casa
da Moeda Nacional. “Caçavam” e “pescavam” avidamente e riam debochadamente na cara do povo. Sujaram a história da cidade, envolvendo-nos no maior escândalo político desde a criação desse município, no dia 20 de dezembro de 1935. Chegou a hora de todos os envolvidos criar vergonha na cara, renunciar o mandato e ir cuidar da vida particular, por que não servem para cuidar do público.

Para o povo ficou a lição, vamos aprender.

O autor é professor da rede estadual de ensino de MS. E-mail: [email protected]