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Opinião

ARTIGO: Um tempo, que se foi com o tempo

26 abril 2015 - 12h34Por José Alberto Vasconcellos

                   Não vamos usar a palavra “antigamente”, porque o que se passou e o que vamos tentar contar, aconteceu há uns cinqüenta ou talvez sessenta e poucos anos. Embora a data não seja tão remota, naquela época, os costumes, as condições sociais, as diversões, tudo era muito diferente.

                  O meio de transporte mais usado pelas pessoas, era o ferroviário. Poucos indivíduos, independente do poder aquisitivo, possuíam automóveis e mesmo possuindo-os, sua utilidade era limitada: não havia estradas pavimentadas e tampouco o apoio indispensável, como postos para venda de combustível ou borracheiros, para remendar pneus furados.

                 Os tempos, como dizemos hoje, eram outros! As necessidades eram limitadas a pequenas e simples demandas, não se criavam necessidades como ocorre atualmente. Todos, dentro dos seus modestos limites, tinham o que precisavam e com esse pouco eram felizes.

                 Não haviam disputas entre  fulano e  sicrano, para exibir opulência, como hoje. O nível social, em geral modesto, quase igualitário, nivelava os ânimos, a despeito da fortuna conseguida por alguns, que  cultivavam costumes discretos. Sem  a mania da ostentação, nada havia que pudesse açodar a inveja no seio da nova  classe que se formava, numerosa e despreparada profissionalmente, que procedia da zona rural.

                   Havia patente influência da II Grande Guerra no modo de vida das pessoas. Mesmo na classe rural onde foram “pescados” recrutas. Lavradores simplórios, que iam às repartições públicas resolver algum problema e eram compulsoriamente alistados, como aconteceu com um meu primo (por afinidade). Recebiam treinamento militar sofrível e passavam a fazer parte das Forças Expedicionária Brasileira, FEB, e mandados para a Itália, para guerrear contra os alemães. Foi a ajuda que o ditador Vargas deu aos Aliados e nossos jovens quase morreram de frio, com o fardamento que receberam.

                  Havia uma patente modificação na vida das famílias que optavam por viver nas cidades. Sentia-se que havia um profunda modificação no seio social. Um choque de culturas que, felizmente, não incrementou qualquer animosidade entre as classes. Prevaleceram os costumes singelos de então, e todos entenderam-se bem.

                 A troca da vida rural por nova vida urbana no Brasil, por  considerável parcela da população, nos idos das décadas de quarenta e cinqüenta, pode-se dizer: foi um sucesso sem qualquer percalço, que pudesse embaraçar a ânsia da sociedade rural, em mudar de vida e integrar-se à população urbana que, para eles, sempre pareceu viver mais fácil e melhor.

                   A integração entre as classes rurais e as urbanas, trouxe alguma vantagem para citadinos. O pessoal da roça, mais simples e espontâneo, trouxe para as cidades muitos costumes que foram de pronto assimilados, um deles que fez muito sucesso, foram os bailes realizados nos quintais das residências, animados por sanfoneiros.

                   De um lado, a mecanização rural supriu a mão de obra dos retirantes; de outro, a evolução da indústria absorveu aquela mão de obra, a qual qualificou e aproveitou nas novas funções.

                   O tempo correu, surgiram as estradas pavimentadas, os veículos melhoraram e ninguém mais quis viajar de trem. As ferrovias foram sucatadas, quando os fretes diminuíram, com o avanço dos caminhões, política executada e incrementada por interesses inconfessáveis, de políticos corruptos. Concorreu também para o fim das ferrovias, o advento dos sistemas de refrigeração: o gado que era levado vivo, para o abate nos grandes centros de consumo, agora abatido, era transportado por caminhões refrigerados, mais rápidos e práticos: vão do frigorífico diretos ao supermercado.

                   Vieram as televisões que acabaram com a utilidade dos rádios, que até então apresentavam, com absoluto sucesso, suas radionovelas, como o “Direito de Nascer”, que durante anos   empolgou e fez chorar, milhares de radiouvintes.

                   Chegaram os telefones e ninguém mais escreveu cartas. Qualquer assunto, com quem quer que seja, em qualquer lugar, passou a ser tratado “on line” pelo novo sistema, que se espalhou pelo mundo, sem medir distâncias.

                   Tudo mudou, as pessoas mudaram, os costumes mudaram e os novos tempos, tidos como modernos, criam manias, modificam modas, cultivam necessidades e ditam – todos os dias – como devemos proceder, para que continuemos a parecer “humanos.”

                   Não somos trogloditas, mas sentimos saudades DAQUELE TEMPO, QUE SE FOI COM O TEMPO...

* O autor é membro da Academia Douradense de Letras. [email protected]