A escola campeã do desfile do Grupo Especial do Rio será conhecida na tarde desta quarta-feira, mas pelo menos quatro das 12 que se apresentaram nas noites de domingo e segunda-feira, na Sapucaí, parecem sair na frente. Unidos da Tijuca, Beija-Flor, Imperatriz Leopoldinense e Mangueira se destacaram, e prometem uma disputa acirrada, voto a voto.
Vale lembrar que Grande Rio, União da Ilha e Portela, prejudicadas pelo incêndio que atingiu a Cidade do Samba há cerca de um mês, não serão julgadas.
Veja como foram os desfiles:
>> Primeiro dia
São Clemente
Finalizando seu desfile com o tempo máximo cravado em 82 minutos, a São Clemente está muito otimista com o seu desempenho na Marquês de Sapucaí neste domingo. O presidente da escola, Eduardo Almeida Gomes, disse que o carinho do público mexeu com o seu coração. "Eu botei fantasia mesmo. Eu fantasiei minha escola com 2,6 mil roupas", disse, acrescentando que a São Clemente é a escola que recebe o menor valor, R$ 6 milhões.
O show na dispersão ficou por conta da ala dos malandros que dançou animada, fez coreografias, mesmo tendo passado a temível faixa amarela. O coreógrafo da comissão de frente, Caio Nunes, afirmou que o desfile foi "show de bola".
Imperatriz Leopoldinense
A eterna Rainha da Bateria da Imperatriz Leopoldinense, Luiza Brunet, levantou o público da Marquês da Sapucaí. Ela se despediu este ano da Avenida, mas disse que não havia clima de adeus: "Carnaval e escola de samba a gente não se despede nunca. Esse é um momento muito glorioso para mim, porque é meu 27° Carnaval."
Brunet desfila com uma fantasia de rainha africana, coberta por 68 mil pedras swarovski.
Questionada sobre o segredo de sua longevidade, a modelo, bem-humorada, citou o enredo da escola: "O segredo é alegria, é sambar. É uma grande felicidade poder desfilar e colaborar com a minha escola de coração. Toda vez que a Imperatriz entra o povo levanta. Isso arrepia. A sensação é indescritível", disse, emocionada.
Portela
A Portela entrou no sambódromo à 00h08, com um samba-enredo que homenageia os segredos das águas do mar. Com quatro mil componentes, a Portela se apresentou com oito alegorias e 32 alas. Na frente da bateria, a atriz Sheron Menezes sambou e cantou o tempo todo, emocionada.
A escola foi uma das vítimas do incêndio que afetou a Cidade do Samba, em 7 de fevereiro, perdendo três mil fantasias que precisaram ser refeitas em tempo recorde. Por causa do acidente, a Portela não será julgada no Carnaval 2011.
A comissão de frente abriu o desfile como se fosse para valer. Muitos componentes da agremiação choraram emocionados durante o desfile por lembrarem da dificuldade enfrentada pela Portela.
Unidos da Tijuca
Cercada de expectativas, a comissão de frente da Unidos da Tijuca foi responsável por mais um momento memorável no Carnaval carioca. Se em 2010 bailarinas trocaram seus figurinos em poucos segundos, este ano foi a vez de vampiros 'perderem as cabeças' na Avenida. O resultado foram gritos de "bicampeã" vindos da arquibancada.
Apesar de não revelar a mágica por trás do truque que encantou o público na Marquês de Sapucaí, a diretora da comissão de frente, Penara Gabriela, conta outro segredo: a língua preta dos componentes foi colorida com um gel alimentício.
"Usamos um gel alimentício. Não há condições de a pintura ser feita com tinta comum ou com qualquer outro tipo de corante. Essa não traz nenhum risco à saúde, o único inconveniente é que permanece por três dias na língua. Mas eles não vão se incomodar, vão?", perguntou bem humorada.
Vila Isabel
Sansão e Dalila, Rapunzel, Medusa e Lady Godiva foram alguns dos personagens que ajudaram a Unidos de Vila Isabel a contar o enredo Mitos e história entrelaçados pelos fios de cabelo. A modelo Gisele Bündchen e a apresentadora Sabrina Sato foram algumas das musas que a escola levou para a avenida. Apesar de um desfile correto, a Vila não empolgou o público.
'O mito da Medusa.' Esse era o nome da comissão de frente que representou o monstro da mitologia grega. De acordo com a história, Medusa tinha os cabelos formados por serpentes e, quem quer que olhasse em seus olhos, era transformado em pedra. Os dançarinos da comissão carregavam em suas mãos réplicas articuladas dos répteis. Cada uma das 10 cobras pesava cerca de dez quilos.
Mangueira
Em busca de um título que não vem desde 2002, quando foi campeã com Brazil com 'Z' é para Cabra da Peste, Brasil com 'S' é a Nação do Nordeste, a Mangueira enfrentou a chuva e apostou na sua história para empolgar a Sapucaí. Em um desfile marcado pela emoção, "O Filho Fiel, Sempre Mangueira" homenageou o sambista Nelson Cavaquinho, que completaria 100 anos caso ainda estivesse vivo.
Nascido nas proximidades da Praça da Bandeira, Nelson entrou no Morro de Mangueira na condição de soldado da Polícia Militar. Como, desde menino, tocava cavaquinho e compunha sambas e choros, acabou por se aproximar de Cartola, Carlos Cachaça e outros grandes nomes da escola, passando a ser conhecido como Nelson Cavaquinho.
O início dessa relação e o pai do compositor, o também policial Seu Brás, foram lembrados pelos ritmistas da verde e rosa. Caracterizada como um verdadeiro batalhão, a bateria do mestre Jaguara Filho empolgou o público com diversas paradinhas e chegou a sapatear durante o desfile.
>> Segundo dia
União da Ilha
A simplicidade das fantasias de algumas alas da União da Ilha do Governador não tirou o ânimo e a garra dos seus integrantes. O exemplo foi a primeira ala, 'Melodia', que veio trajada de maneira simples, representando 'as bactérias' do enredo. Antes do incêndio que atingiu o barracão da escola, no início de fevereiro, a ala Melodia tinha uma fantasia luxuosa.
Primeira escola a desfilar na Marquês de Sapucaí, neste segundo dia, a União da Ilha embarcou no navio Beagle e deu a volta ao mundo com Charles Darwin, o naturalista inglês que se encantou pelas florestas tropicais brasileiras. Através de sua teoria revolucionária, a viagem leva à origem de tudo, ao grande mistério: a história da vida.
Além de Charles Darwin, o enredo homenageou outros nomes importantes da Biologia. No carro do Jardim Botânico, plantas carnívoras, com tecnologia de Parintins, levantaram componentes à altura das arquibancadas. O ator Alexandre Nero interpretou Charles Darwin durante o desfile da escola.
Salgueiro
O choro incontrolável tomou conta de vários integrantes do Salgueiro na dispersão. O motivo: a escola estourou o tempo máximo permitido para o desfile, de 82 minutos, devido a problemas em três carros alegóricos. A agremiação vai perder um ponto, apesar do belo desfile.
A segunda, a sétima e a oitava alegorias não conseguiam entrar na Avenida devido ao tamanho. As tentativas para a entrada do sétimo carro quase levaram ao esmagamento de um dos funcionários responsáveis por empurrar a alegoria.
A bateria nem chegou a entrar no recuo. Os problemas devem prejudicar as notas da escola no quesito evolução.
Até mesmo a presidente da escola, Regina Célia, desesperada com os problemas, tirou os sapatos e ajudou a empurrar os carros.
Com o enredo Salgueiro apresenta: o Rio no cinema a agremiação apresentou a cidade como palco de diversas produções cinematográficas. A bateria, comandada pelo Mestre Marcão, tocou fantasiada de soldados do Bope, em referência ao filme Tropa de Elite.
Mocidade
Com o enredo Parábolas dos divinos semeadores, a terceira escola a se apresentar na Sapucaí, Mocidade Independente de Padre Miguel, fez um desfile correto, mas teve alguns problemas com os carros alegóricos. O terceiro, "Grandioso banquete da deusa Ísis, senhora da agricultura", agarrou na grade de proteção do setor 1, abrindo um buraco na avenida. Com isso, a 14ª ala da escola, "Deus Baco e as bacantes", passou pela lateral e tomou a frente. Houve um princípio de incêndio e os bombeiros foram acionados, conseguindo retirar o carro da grade.
Já o oitavo carro da Mocidade demorou a entrar na avenida, causando um buraco no desfile da escola no setor um. O carro reúne crianças e a Velha Guarda da agremiação. Assim que alcançou a Sapucaí, integrantes se apressaram a diminuir as distâncias.
E o último carro, "No futuro um encontro com o passado", também teve dificuldade para entrar na Sapucaí. Componentes da escola demoraram mais de cinco minutos para manobrar a alegoria.
Grande Rio
Escola mais afetada pelo incêndio que destruiu três barracões na Cidade do Samba, no dia 7 de fevereiro, a Grande Rio entrou na Avenida para homenagear a cidade de Florianópolis e para provar que, através da união de seus componentes, é capaz de enfrentar qualquer adversidade, incluindo a forte chuva que começou a cair momentos antes do desfile a agremiação.
A escola de Caxias teve ajuda da iniciativa privada e a contribuição de R$ 1,5 milhão da Prefeitura do Rio. O incêndio reforçou ainda mais o laço da Grande Rio com a classe artística. Além da tradicional participação de nomes como David Brazil e Adriana Lessa, a agremiação contou com outras estrelas em suas alas. - Está todo mundo aqui, ano que vem vamos voltar com mais força ainda. O sonho não acabou - disse a atriz Grazi Massafera.
Antes do desfile, a atriz Susana Vieira, ex-rainha de bateria da agremiação, afirmou que a escola daria uma lição de superação. "Não viemos para passear. Estou na escola há 15 anos e sei que, neste domingo, a gente tem que fazer história. Apesar de ser jovem, a Grande Rio já tem uma história e pode chegar ainda mais longe. Vamos fazer um belo desfile”, disse.
A apresentadora e modelo Ana Hickman teve sua passagem marcada por um acidente. Descalça, escorregou e bateu com o rosto no chão da passarela do samba. Após perder o equilíbrio, ela ainda tentou se apoiar com os braços, mas não conseguiu evitar a queda.
Porto da Pedra
Quase 2h30 depois do horário previsto, a Unidos do Porto da Pedra deu início ao seu desfile. Com o enredo chamado O sonho sempre vem pra quem sonhar, a escola prestou homenagem à escritora e dramaturga Maria Clara Machado. A apresentação não empolgou muito o público presente à Sapucaí.
Foram 37 alas, compostas por 3.800 integrantes, e sete carros alegóricos. A rainha de bateria, Ellen Roche, fez sua estreia na escola.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rodrigo e Daniella, também estreou como casal principal. Daniella estava fantasiada de bolo. "É uma roupa bem diferente. Nunca vim de bolo, mas é uma roupa linda e muito compacta", disse.
Beija-Flor
Com atraso, devido a óleo na pista, a última escola do Grupo Especial carioca a se apresentar este ano, a Beija-Flor de Nilópolis entrou na Marquês de Sapucaí com o enredo A Simplicidade de um Rei. Em um desfile emocionante, a agremiação fez uma homenagem ao Rei Roberto Carlos, que levantou o público na sua passagem.
A comissão de frente se apresentou com um Roberto Carlos ainda menino que procurava as notas músicais que se escondiam dentro do rádio. Curioso, ele entrava dentro da 'caixa mágica' e, como em um passe de mágicas, elas desapareciam. Após fazer suas orações, a grande caixa se abria e revelava uma porção de notas. Junto com elas, Cláudia Raia surgia representando as musas do rádio.
Novidade no Carnaval 2011, a comissão de frente interagiu com o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. Com leques adaptados com tecido nas cores da escola, os dançarinos rodeavam o casal durante suas apresentações para os grupos de jurados. Assim que a interação terminava, os dançarinos retomavam às suas posições abrindo espaço na avenida, para a passagem das demais alas da agremiação.
Roberto Carlos veta o preto
Sobre a fama de o cantor criar uma série de obstáculos por causa de suas superstições, o diretor geral de carnaval, Laíla, garantiu não ter tido muitos problemas.
“Desfile é assim: ou a pessoa gosta ou não gosta. Ele pediu para não usarmos a cor preta nas fantasias e aceitamos. Houve outras divergências, mas sempre conseguimos conversar e chegar a um acordo. O Roberto é uma pessoa sensacional. Simples e fácil de lidar", finalizou.