Dentre os maiores representantes da música soul, poucos viveram uma vida que representa tão bem o que canta o gênero quanto Sharon Jones. Aos 59 anos, após superar um câncer no sistema digestivo, a cantora chega ao Brasil pela segunda vez acompanhada pela banda Dap Kings para uma série do shows que começa nesta sexta-feira (22), em Porto Alegre.
A turnê do sexto disco da cantora, "Give the people what they want", lançado em 2014, ainda passa por Curitiba, São Paulo, Rio e Paraty (RJ).
Jones é uma das principais expoentes atuais de um ritmo do passado. Ela discorda. "O soul não é algo morto, algo vintage. Ele está vivo e continua evoluindo", afirma a cantora ao G1, por telefone.
"Sempre que vamos compor tentamos incorporar algo novo, na batida, na letra. Tentamos colocar algo que represente a vida que temos hoje. Como dizer que algo assim não está vivo?", pergunta ela. Um "you know?" pontua cada uma de suas frases.
Cantora desde criança nos corais de igreja das missas dominicais, Jones atingiu a fama depois dos 40 anos. Ela foi descoberta em meados dos anos 1990, ao fazer os vocais de apoio em uma apresentação do cantor Lee Fields.
Enquanto o reconhecimento não chegava, a cantora se virava como podia. Tanto que, por alguns anos, foi conhecida como "oficial Jones", enquanto trabalhava como guarda na prisão da ilha Rikers, em Nova Iorque.
Sem saudade da prisão
Perguntada se sente falta dos dias como guarda e como segurança de um carro forte, Jones é lacônica. "Não", responde, com uma felicidade indisfarçável. "A época me ajudou muito a me tornar a mulher que sou hoje, me ajudou a crescer e sou muito grata. Mas eu nunca me peguei pensando 'nossa, quem me dera ainda ser guarda de prisão'", diz, rindo.
Ela foi obrigada a dar uma pausa na carreira após ser diagnosticada com um câncer no ducto colédoco, que faz parte do sistema digestivo. Teve que lutar contra a mesma doença que vitimou sua mãe em 2011.
Mas o afastamento do microfone não significou uma distância do público. A cantora fez questão de compartilhar com os fãs todas as etapas do tratamento. "Achei que era meu dever ser franca e mostrar que é possível superar o câncer. Se eu inspirei pelo menos uma pessoa, já valeu a pena", conta ela.
Com a doença superada, Jones volta ao Brasil diferente da mulher que se apresentou há quatro anos.
"A começar pelo cabelo, né", brinca ela, sobre a cabeleira perdida durante a quimioterapia. "O câncer me deixou mais forte, me deu mais energia. Estou ansiosa para chegar aí e saber se vocês acham que estou diferente. Posso apenas prometer que no mínimo vou continuar fazendo tudo o que já fiz da última vez e venho fazendo todo esse tempo.”
